Monday, December 19, 2005

A má notícia

Todos em casa já estão devidamente informados a respeito da notícia...daquele mal irremediável, também conhecido como "a indesejada das gentes". Mas eis que o telefone toca e todos, ao mesmo tempo, correm para atender, na esperança de que tudo não tenha passado de uma brincadeira.

A vida é uma criança mal educada e cheia de querer fazer humor nas horas em que não deve.

Tuesday, November 29, 2005

Sem solução!

Quando ouço um discurso do Lula, forço a imaginação para não achar esquisita a idéia do Brasil desenvolvido como os EUA, ou mesmo a França.

Tudo em vão...nem na fantasia (pelo menos na minha) isso funciona. E olha que a minha imaginação se projeta lááááá pelo ano de 2057 ! :^(

Thursday, October 27, 2005

Filosofia de quinta (27/10)

Na vida, os problemas são todos inconstantes- uma montanha russa só. E a dificuldade de solucioná-los reside justamente nessa inconstância. Um mesmo problema jamais se apresenta duas vezes com a mesma face: antes ele se transfigura, com sutileza impressionante, e só então retorna para se reinstalar na vida do indivíduo. Por isso nunca temos uma base prévia do que está por vir, e é sem essa base que somos postos frente-a-frente diante dos problemas; sem tempo para pensar, medir, calcular uma reação e reagir. É como se estivéssemos lidando com um vírus, só que a vacina é preparada por nós mesmos, os doentes, durante o processo da doença, independente de momentos críticos ou traumas.
A maioria, a grande maioria das pessoas procura maneiras de projetar os problemas, antes mesmo que eles apareçam. Uns escolhem escapismos, outros, talvez mais prudentes, lançam mão de idéias preestabelecidas: e assim temos os conceitos de moral, sabedoria e virtude prontos para servirem de auxílio. Se esses conceitos são bons ou ruins, não vem ao caso aqui; eu particularmente acho que na essência são todos bons. O que me perturba, porém, é que muitas vezes essas idéias “antídoto” acabam virando idéias fixas, e é nesse ponto que surge um novo problema: a precipitação
No afã de assegurar uma total proteção contra as vicissitudes, as pessoas acabam buscando uma única fórmula padrão que seja imbatível e que sirva para problemas distintos e diversos: dos mais cabeludos aos mais corriqueiros. Então, a moral, que deveria ser usada em uma ocasião determinada, acaba se sobrepujando e invadindo outras áreas da vida, onde ela não é necessária ou mesmo saudável. A virtude passa a ser uma febre obstinada, que não poupa ocasião nem lugar para “revelar” sua suposta grandeza.
Não estou sendo relativista, apenas procuro ser razoável. Ora, se preciso dessas idéias que me guiem, também preciso direcioná-las de modo que a vida não seja uma massa de preceitos e teorias calculadas. É tolo se revestir de uma couraça da mente na ilusão de que assim os problemas se afastarão. Isso não acontece, e por uma simples razão: a vida não é uma coisa só. As adversidades são como os impulsos da natureza: não nos respeitam; pouco se ralham para o que pensamos ou do que desgostamos. A vida humana é pequena demais para poder controlar o engenho primitivo das coisas.
Ah, já sei: agora estou sendo cético e pessimista.

...e dentro do ônibus os passageiros descobriram nosso plano:

- Nós sabemos aonde vocês estão indo, fazer o que, e com quem; pois estamos indo para o mesmo lugar, fazer a mesma coisa, com a mesma pessoa!

Thursday, October 20, 2005

Gente fina

O Digestivo Cultural completou cinco anos de existência. E o que dizer da festa de comemoração foi um estoporo.
Fomos muitíssimo bem recebidos, pra começar - estavávamos eu e uma amiga. Conhecemos o editor e mais alguns colunistas, entre bebidas e conversas...
Este rapaz, além de muito simpático, também é paciente, pois foi capaz de aturar as bobagens que nós dizíamos na mesa. Vou querer ler o "120 Horas", pode ter certeza. Ele é amigo de longa data do Ram - contou umas coisas aí, viu? (brincadeira).
Aqui eu já havia elogiado os textos do Eduardo; conhecê -lo pessoalmente foi uma grata surpresa. Extremamente gentil e atencioso, e modesto, também sentou conosco e ouviu nossas besteiras. Morri de vergonha quando soube que ele conhecia meu blog, mas tudo bem...

Essa festa foi boa, não só para conhecer gente bacana e inteligente, mas também, de quebra, serviu para que eu engolisse tudo que disse sobre a não existência de bares e lugares interessantes em sampa
Pena que não podíamos ficar mais tempo; se fosse por mim, ficaríamos a festa inteira, porque estava muito boa. Minha amiga, recente leitora do site, ficou encantada com tudo, e disse que se houver outra dessas e eu não avisá -la, ela quebra meu pescoço.
Enfim, vida longa, e bem merecida, aos colunistas, ao editor, ao site.

:^)

É o tempo...

Você começa a perceber que está ficando velho quando seus sobrinhos, na faixa dos 13/ 14 anos, estão tendo uma conversa muito empolgada, relembrando dos velhos tempos da primeira infância, quando o lance era estourar saquinhos de salgadinhos e ver o pozinho amarelo voando pelos ares. Sim, e quando isso aconteceu você já não era mais criança. Você já sabia de coisas demais até.

Friday, October 14, 2005

Queria um bar onde tocasse isto:

Freddy Quinn - La Paloma

Cenas de sangue no bar

Deixei de ir a bares. Por causa das várias brigas e por causa daquilo que chamam de música ambiente.
Minto, as brigas até que me divertiam, e é um milagre que de todas nenhuma terminou em tragédia. Nunca levei a pior (e por incrível que pareça, já que sou franzino). Não, não...teve uma vez que me derrubaram no meio da avenida e eu me estatelei feito uma jaca madura, mas essa não valeu: eram dois contra mim. Na verdade, em todas as confusões o inimigo estava sempre na maioria, em vantagem, mas o confronto físico geralmente era de um para um. Lembro de um gordo que tentou me jogar no chão, segurando pela minha beca. Fiquei com tanto ódio que um simples empurrão e um grito de "qualé que é a sua?" fez ele voar longe e terminar com as banhas esparramadas pelo chão . Tiveram que me segurar para que eu não quebrasse aquela cara balofa. Acho que esse episódio foi o único no qual eu fiquei com ódio feroz. Das outras vezes eu demorava para entender o que se passava ao meu redor - ficava em um daqueles transes em que você se vê diante de uma situação tão absurda, que acaba sendo difícil crer que, de fato, a coisa toda esteja acontecendo. Nesses casos, se eu batia era mais para me defender do que para causar mal.
Os motivos das brigas? Os mais banais possíveis: de um simples esbarrão à uma palavra mal compreendida.

Sou um sujeito pacífico; fujo do banzé como o diabo da cruz, mas eu não sei o que acontecia, parecia coisa combinada. Não passava dois meses sem que eu me metesse em uma treta, e os tipos com os quais eu me engalfinhava eram os das piores espécies. Então, num belo dia, me convenci de que não valia a pena sair à noite, despretenciosamente, e acabar me deparando com essas criaturas que saem com o intuito de arrumar briga. Claro, não posso ocultar um fato: sou um rapaz suburbano, então os bares que eu frequentava não eram esses que se pode chamar de lugares civilizados. E é sabido que as classes menos favorecidas são as mais estouradas - vide as tragédias que aparecem nos notícias populares da vida. Mas ainda que a questão "violência" não seja um problema nos lugares menos ralé, um outro problema ainda persiste: as músicas

É triste se acomodar num ambiente, pedir uma bebida, e ter que ouvir uma música ruim. Não dá, não tem clima e ecletismo que resistam a isso. Você ainda tenta ignorar o lixo musical, mas não tem jeito, ele é a sua trilha sonora daquele momento. Você não pediu, não teve escolha, mas ela está lá, a música hedionda, embalando a ocasião e servindo como pano de fundo para seus pensamentos, suas conversas...
A invasão musical (poluição sonora) deveria ser considerada um crime.

Duas coisas sobre o referendo:

1 - Terei que trabalhar como mesário no referido dia. Ó vida, ó céus;

2 - Caso o povão opte pelo "sim", o governo irá cortar o meu pinto.

Monday, October 10, 2005

Deu no noticiário

O frio em São Paulo não vai acabar nunca mais.

Saturday, October 08, 2005

Enquanto isso, em Gotham City

No one knows what it's like
to be the Batman
to be the Bruce Wayne
Behind blue mask...

Monday, October 03, 2005

Poor, poor me Israelites

A felicidade do pobre dura tão pouco que não dá tempo nem de vendê-la a preço de banana.

Definição

O único processo de auto definição aceitável é o profissional. Todos os outros são problemáticos.

Friday, September 30, 2005

Um dos melhores


Filme, trilha sonora, roteiro, cartaz...simplesmente perfeito.

Le Mari de la Coiffeuse
(O Marido da Cabeleireira)
França/1990
Direção: Patrice Leconte;
Elenco:
Jean Rochefort
Anna Galiena
Roland Bertin
Maurice Chevit
Música: Michael Nyman

Wednesday, September 28, 2005

A vida é uma ilusão, querida.

-Mas me conta...fiquei sabendo por alto. É verdade mesmo?
- É!
- Mas, mas...pro Egito? Ela foi pro Egito?
- Foi!
- E essa pessoa com quem ela foi se encontrar...conheceu pela internet?
- É! Tudo pela internet!
- Nossa! Mas ela foi assim, às cegas?
- É...eles ficaram se comunicando por uns três meses pela internet, né! Ele aparecia dando tchauzinho nesse negócinho aí...como é que chama?
-Webcam!
- Pronto! Isso mesmo. Eu ainda disse assim pra ela: "menina, tu vê bem isso!"...mas ela foi mesmo assim!
- Poxa vida! Pro Egito. Estou sem acreditar!
- Pois é, legal né?
- É...legal!
- Parece coisa de uma novela...como era mesmo o nome?
- Acho que eu sei: Cambalacho!

Tuesday, September 27, 2005

Comedian Harmonists

Como não sei alemão, canto tudo errado mermo.
Por favor, se alguém souber alemão e puder traduzir, agradeço. Si não puder, agradeçu da merma forma :)

Wochenend und Sonnenschein

(Comedian Harmonists)

Wochenend, Sonnenschein,
brauchst du mehr, um glücklich zu sein?

Wochenend und Sonnenschein
und dann mit dir im Wald allein,
weiter brauch ich nichts zum Glücklichsein,
Wochenend und Sonnenschein.
über uns die Lerche zieht,
sie singt genau wie wir ein Lied,
alle Vöglein stimmen fröhlich ein,
Wochenend und Sonnenschein.
Kein Auto, keine Chaussee,
und niemand in unsrer Näh.
Tief im Wald nur ich und du,
der Herrgott drückt ein Auge zu,
denn er schenkt uns ja zum Glücklichsein
Wochenend und Sonnenschein.

Nur sechs Tage sind der Arbeit,
doch am siebten Tag sollst du ruhn,
sprach der Herrgott, doch wir haben,
auch am siebten Tage zu tun.

Wochenend ...

Sem condições

Enquanto as pessoas continuarem a acompanhar com avidez os acontecimentos políticos; com as unhas roidas por causa da emoção, os calafrios de suspense quanto ao próximo capítulo, os potões de pipoca amanteigada, poltronas aconchegantes e grandes excitamentos diante do escândalo fresquinho, esse país não sai da sujeira.

De como nasce o pudor (filosofia de segunda /26/09)

Não pode ser correto dizer que o pudor é uma herança da cultura judaico-cristã.... tem algo de errado nisso. Assim como não é certo associar sempre essas duas coisas. Que existe uma linha comum e tênue é inegável, mas ela se restringe aos nossos conceitos, formado ao longo dos anos, e só serve para quando estamos discutindo (especulando) coisas, mas nunca para quando estamos vivendo.
Na realidade, longe dos teoremas, as coisas mudam, porque ninguém, ou quase ninguém, pára para pensar em cultura na hora de conter um desejo ou se entregar a ele.

O pudor é feito da mesma matéria que o desejo e já está dentro de nós - a diferença é que o seu sentido é inverso. O pudor está para nós assim como o instinto de preservação está para a selva. Temos todos esses dois impulsos, que se equilibram ou pendem conforme pessoas, épocas ou situações. São coisas nossas, inerentes, e não regras, sabedorias ou ditames; enfim, algo que venha "de fora". Se tivéssemos só o desejo, sem uma “trava” para contê-lo, viveríamos como os animais e certamente não seríamos tão complexos.
Penso que é errado atribuir o pudor à cultura judaico-cristã porque essa tal de cultura judaico-cristã teria que ter muito “chaveco” para eliminar o desejo das vidas das pessoas. Other words: esse decreto contrário às paixões teria, obrigatoriamente, que falar a mesma língua do desejo; o que só é possível caso seu movimento seja de dentro para fora, e não o contrário.

Monday, September 19, 2005

The Man Who was Thursday

"The pale face thus peeled in the lamplight revealed not so much rage as astonishment. He put up his hand with an anxious authority.
'There is some mistake', he said. 'Mr Syme, i hardly think you understand your position. I arrest you in the name of the law'.
'Of the law?' said Syme, and dropped his stick.
'Certainly!' said the Secretary. 'I am a detective from Scotland Yard', and he took a small card from his pocket.
'And what do you suppose we are?' asked the Professor, and threw up his arms.
'You', said the Secretary stiffly, 'are, as I know for a fact, members of the Supreme Anarchist Council. Disguised as one of you, I-'
Dr Bull tossed his sword into the sea.
'There never was any Supreme Anarchist Council', he said. 'We were all a lot of silly policemen looking at each other. And all these nice people who have been peppering us with shot thought we were the dynamiters. I knew I couldn't be wrong about the mob.', he said, beaming over the enormous multitude which stretched away to the distance on both sides. 'Vulgar people are never mad. I'm vulgar myself, and I know. I am now going on shore to stand a drink to everybody here."

G.K. Chesterton

Estou adorando o livro. Cheguei no suspense maior, o derradeiro, e parei um pouco com a leitura; tive que separar esse trecho.

Saturday, September 17, 2005

O mal do canastrão

Das coisas que um ator não pode fazer de maneira alguma:

Tentar roubar a cena e/ou tentar ser um bom ator. São esses os dois pontos periclitantes, e só esses, que são capazes de transformar um ator em um perfeito canastro.
Não adianta estudar, ler quilos e mais quilos de teorias - vejo atores que só pioram na medida em que se preparam. Tentar imprimir virtuosismo forçado nas atuações é uma forma de querer ser bom que também não dá certo; não é assim que se melhora a coisa toda.
Das vezes em que subi em um palco, mesmo quando ainda era bem novo, sempre mantive o foco da minha atenção na necessidade de embarcar no espírito daquilo tudo. É preciso entender que a encenação é como uma brincadeira na qual você conhece todas as regras, e a principal delas é: brincar, ou pelo menos fingir que está brincando. Se você não sabe embarcar nessa brincadeira, possivelmente também não consegue se entregar à um rítmo e deixar a música levá-lo, enquanto dança, pois está muito preocupado se vai dançar feio e desengonçado - o princípio é mais ou menos esse.
Atuar não é muito diferente do que aquilo que fazemos nos momentos inspirados da vida real; geralmente quando ninguém está vendo. É como quando estamos passeando por uma rua bonita e temos aquela repentina sensação de que tudo faz sentido, que a vida é uma orquestra maravilhosa na qual nos sentimos imensamente gratos por poder participar. Nesse estado de espírito, digamos...sublime, você se encontra suficientemente sensível para poder forjar todo tipo de sentimentos e sensações: dor, alegria, ódio, euforia, disposição, cansaço - podendo transitar por todos eles com muita facilidade. A alegria é o princípio, e é através dela que subjulgamos todos os outros sentimentos. É por isso que é difícil forjar alegria quando se está triste, enquanto que o contrário é bem fácil de se fazer.
A maior dificuldade não é encenar um texto consagrado, como um Shakespeare, mas sim manter aquela inspiração inicial, ou dos ensaios, mesmo depois das repetidas apresentações. Fazer isso é quase impossível, porque chega uma hora em que a mágica se quebra. É como o amor: uma hora acaba, e é aí blau, blau. Da mesma forma, quando estamos andando pela rua bonita, chega um momento em que aquela sensação de beleza e perfeição cessa, e você é lançado de volta para os problemas costumeiros da vida. No teatro, depois que isso acontece, vai da capacidade de cada um poder superar esse drama e prosseguir, sem teorias nem técnicas para ajudar; é preciso partir pro peito e pra raça - pelo menos era assim comigo. Nesse momento acho que o que me salvava era o pensamento: faça o que quiser, mas não tente ser bom ator.

Vejo o rosto constrangedor de um canastro durante uma cena; seja na tv, no cinema ou teatro, e consigo adivinhar os pensamentos dele no momento exato da atuação, o único que resta: sou um bom ator, sou um bom ator, sou um bom ator... - repetido como um mantra.
Se o ator está preocupado demais em ser bom, possivelmente não vai sobrar espaço na mente dele para poder sintonizar no que está acontecendo ao redor, isto é, no universo que está sendo posto em cena.
Um texto, sendo bom ou ruim, sempre possibilita uma variedade de elementos para compor um universo, ainda que pequeno, e é esse universo que vai guiar o ator, como no exemplo do dançarino levado pela própria música. Quando for encenar o texto de um determinado autor, procure ler tudo dele, até a biografia do sujeito. Se o autor for muito ruim, ou não lhe disser nada, tente procurar o correspondente bom dele, ou seja, alguma obra que já tenha trabalhado de maneira eficiente com o mesmo tema - é sempre possível dar um jeito; o que não pode é culpar totalmente um escritor pelos desastres de atuação, porque cabe a você, como ator, ampliar aquele universo que ele começou a construir; ou que pelo menos tentou.

Roubar a cena também é outro problema, porque você só consegue fazer isso se for bom, e para ser bom você precisa se livrar dessa idéia, antes de tudo. E assim temos um paradoxo.

Colunas

Fico lendo as colunas do Eduardo Carvalho, principalmente aquelas em que ele escreve sobre suas viagens, e só falto babar no meu teclado. O rapaz viajou praticamente toda a Europa e explica muito bem as características de cada local, em textos simples, acessíveis e ótimos de se ler. E olha que nem sou lá muito cosmopolita.
Eu já havia percebido que o Eduardo tem ótimas idéias a respeito de literatura, lendo as colunas sobre livros: dos grandes clássicos aos totais desconhecidos. Aliás, um dos melhores textos dele é exatamente uma análise do que vem a ser clássico.
Mas voltando às viagens: o que é mais interessante nesses "relatos" é que as impressões, sensações e lembranças mais profundas não são reveladas nos textos. Isso porque o autor sabe que certas coisas não podem ser verbalizadas; ainda mais naquelas breves linhas. E se elas não podem ser descritas é porque, ao contrário de ter imaginado tudo, o Eduardo de fato esteve lá e vivenciou todas elas. Muito diferente de jovens que nem sabem o que é Europa (pelo simples fato de que nunca estiveram lá), mas vivem arrotando um pedantismo insuportável para falar de coisas que leram nos livros, ou viram em outras obras de arte - erguidas como estandartes do (oh!) requinte e bom gosto - outros falam mal de certas coisas, como se fossem peritos e, embora tenham de fato viajado, não abandonaram as frivolidades e os cacoetes de um verdadeiro cabaço.
Não adianta, é preciso viver, presenciar, conhecer de verdade, antes de levantar a voz para falar sobre qualquer coisa, e talvez o resumo do que seja pedantismo tenha a ver com o deplorável vício de colocar idéias preestabelecidas diante da vivência.
Dá gosto de ler o Eduardo, e volto a dizer que os textos sobre literatura também são fabulosos. Só não dou muito crédito para as opiniões cinematográficas do rapaz (mas isso é outra história).
Eduardo é exatamente um mês mais velho que eu, e lendo a apresentação dele no Digestivo Cultural descubro que começamos a gostar de literatura com a mesma idade, através de um mesmo escritor - William Somerset Maugham. Bem, as semelhanças param por aí, pois o Eduardo é muito mais refinado, classudo, viajado e inteligente que eu - este-pobre-camponês-colhedor-de-amoras, etc...E chega de rasgar seda.
A única coisa que não entendo é o porquê de ele escolher Caos Paulo para viver - deve ter suas razões.

Para alguém que aqui caia de pára-quedas: vá para . E viva minha geração, que não está de todo perdida.

Tuesday, September 13, 2005

E no colegial...

Minha professora de literatura dizia:
- Seu texto está bom, mas precisamos enxugá-lo. Vamos dar uma enxugada no seu texto!

E lá ia eu, imaginar minha jovem professorinha, encurvada em um tanque, com avental e um pano amarrado na cabeça; torcendo meu texto, expremendo meu texto e dizendo:

Eita que ele tá ficando enxuto que tá uma beleza. Em dois palitos vai ficar uma perfeição. Não digo nenhum Camões, mas...

E secava a testa com as costas das mãos.

Rede de intrigas

Não consigo levar a internet a sério. É por isso que rio quando vejo brigas virtuais - são sempre muito engraçadas. Não só as brigas, mas a forma como as pessoas ampliam suas convicções e exageram, querendo dar a última palavra e perdendo toda a razão. É divertido porque não são crianças envolvidas; são pessoas (gosto de assim pensar) que já podem chutar o balde sem muitos traumas ou grandes desilusões.
Certamente o fato de eu rir dessas coisas faz de mim um (oh!) boçal, ao ver de muita gente. E se eu disser que também não me importo com isso?
É engraçado, as pessoas distribuem gratuitamente as fartas "munições" para as piadas e ainda querem que você deixe passar batido...ah, no, no, no, no! Sinto muito.

Sunday, August 28, 2005

Um velho tema.

Já tem muito tempo que eu quero tratar desse assunto por aqui, portanto serei prolixo.
Na verdade, só não escrevi quando me bateu a primeira vontade porque me faltou coragem.
Não, não falo daquela falta de coragem como a de quem “foge da raia” por medo -falo de preguiça mesmo. Sei que não é um texto definitivo; sei que ao longo dos anos ainda mudarei muitas dessas minhas idéias, e também sei que posso perfeitamente não mudar. Afinal, na vida, chega uma hora em que as convicções rejeitam mudanças, solidificam e não se transformam mais. É como nosso corpo: nasce, cresce, desenvolve, pára, depois envelhece.
Mas eu falei de convicções; não sei se é a palavra certa. Eu poderia substituir por crença, e só não o faço porque para mim ambas tem o mesmo significado.

O que é acreditar em Deus? – eis uma das minhas muitas perguntas freqüentes para as quais nunca obtenho uma boa resposta. De um cristão, por exemplo, eu ouço de tudo: desde que Deus se fez homem, e então é preciso acreditar na existência desse homem; até as mais complicadas teorias sobre a famosa Trindade – Deus é três. Se eu quiser acreditar, não só tenho que saber desse fato, mas também preciso entender como esse mecanismo funciona – sob o constante risco de estar sendo enganado pelo Adversário. Ou então, preciso passar por um ritual, como demonstração dessa crença; um simples ritual, sem o qual as portas do paraíso serão fechadas na minha cara. Bem, ainda nem mencionei o calvinismo...paremos com os exemplos por aqui.
Ora, talvez eu esteja procurando simplificar a coisa mas para mim, acreditar em Deus era o que eu fazia quando tinha quatro anos de idade. Simples, doce, singelo, sem esses complicadíssimos cálculos da medida da hipotenusa da raiz elevada ao quadrado cúbico.

Lembro de um certo dia, talvez a lembrança mais distante que eu tenha dessa vida; fazia um sol incandescente enquanto eu brincava sozinho no quintal- acho que eu não tinha nem cinco anos completos . Não lembro exatamente como aconteceu, mas muito provavelmente eu saí de uma área ensolarada do quintal e fui para a sombra, com a cabecinha quente e a vista um pouco turva. Vi um pedaço de céu azul quando olhei para o alto, e em questão de segundos minha vista começou a formar imagens: manchas coloridas, dessas que vemos quando saímos de um lugar muito claro e vamos para a sombra.
Naquele instante, não duvidei: aquela mancha era Deus. Minha imaginação foi capaz de ver semelhanças entre aquelas manchas e imagens religiosas, que provavelmente eu já tinha visto em alguma igreja. Mas não era só isso; para mim aquelas cores avermelhadas e destacadas no azul foi algo sublime, mágico, diferente. Não contei para ninguém, nem esperei por uma outra aparição, ou mensagens cifradas, milagres, conversas. Era doce pensar que Deus tinha aparecido para mim, ainda que só um pouquinho e silenciosamente – era o bastante. O mistério era uma coisa boa.
Lembro de que nunca havia passado uma noite em claro, então as três, quatro, cinco horas da manhã eram grandes mistérios insondáveis. Para mim, nesse horário a noite ficava tão preta, tão preta, que ninguém poderia enxergar nada, mesmo com a luz acesa.
Lembro do meu primeiro contato com a morte, quando vi um acidente de carro perto de casa. Fiquei muito triste; pensei na minha mãe, tive medo de que algo assim, algum dia, pudesse acontecer com ela. Não pensei em Deus, Ele não tinha nada a ver com aquilo –Deus era só uma mancha colorida e diferente, que olhava para mim enquanto eu brincava no quintal.

Mas onde estou querendo chegar? Bem, o que quero dizer é que Deus transformou- se, nas diversas culturas em que aparece, em maior ou menor grau, em um elemento destacado da vida . Não casa, não combina, não se concilia. Deus e vida são como água e óleo: não há mistura. Para que eu creia em Deus, eu tenho que esquecer de todos os movimentos da minha razão perante o mundo, para só então me concentrar em uma outra esfera de conceitos, que está à parte do que minha percepção me diz.
Claro, um religioso vai dizer: mas já está nas Escrituras que o entendimento de Deus não é o deste mundo, que a compreensão dos desígnios de Deus ultrapassam qualquer entendimento, etc, etc. E eu me pergunto: isso muda alguma coisa?
Não vou fazer aqui aquelas longas listas de razões para se duvidar da existência de Deus, porque não é a existência em si o x do problema. Para mim, Deus tanto pode existir como pode não existir; a vida, por si, já é um grande absurdo, então tudo o que possa vir depois dela é possível...assim na realidade, assim na imaginação.
A parte confusa, complicada e embaraçosa disso reside nas crenças, na forma como definimos Deus, e na maneira como Ele deve ser...”tratado”.
Não consigo entender os rituais, as explicações dos fenômenos, as profecias, os grandes eventos e milagres, os conceitos do Mal Absoluto. Tudo isso me parece que são coisas de uma terra distante, de uma outra era; quiçá de outro planeta. Não vejo a possibilidade de condicionar toda a minha vida a esses preceitos tão distantes, porque a própria vida nega todos eles. Quando falo “vida” não é para ser entendido no conceito religioso de “mundo”, ou “mundano”, porque as religiões, quando falam em mundo, referem-se mais aos homens e suas loucuras que a própria vida como um todo.
Já tentei modificar esse meu pensamento, já revirei aquela “Suma Teológica” de Tomás de Aquino de ponta cabeça, e tudo o que eu vi foi uma filosofia se esforçando ao máximo para validar os conceitos do cristianismo e torná-los mais compatíveis com a vida que se leva.

Depois da infância passei a desconfiar da imaginação, exatamente por isso: ela é como um papel em branco, que tudo aceita, e tudo pode acontecer dentro da minha cabeça, até mesmo aquilo que é estranho e alheio à realidade. A diferença é que enquanto tenho consciência de que tudo ocorre na minha mente, não há duvidas, nem questionamentos.
Acho engraçado, parece que é combinado, mas o que eu vejo de pessoas religiosas falando da arrogância do ateu não está escrito em gibi nenhum. Às vezes tenho a impressão de que esses religiosos temem uma possível superioridade do ateísmo, e isso só enfraquece as estruturas da crença, tornando-me ainda mais distante do que possa ser a compreensão delas. Ora essa, eu quero acreditar, eu tenho um real interesse e até mesmo uma certa admiração pela crença, mas como confiar nas convicções de uma pessoa se ela parece considerar o seu extremo antagônico como sendo uma ameaça, ou algo superior?
É uma mania estranha essa de atacar vorazmente e apontar as possíveis falhas do ateísmo; isso quando não atacam também o agnosticismo, o famoso “Spiritual but not religious”, ou , pior ainda, as outras crenças – claro, porque só a minha é verdadeira.
Depois ainda falam que o mundo persegue a igreja afim de extinguir o cristianismo da face da terra, e criam teorias absurdas e cheias de malabarismos, para que elas ganhem um fundo de verossimilhança.
A hipocrisia é uma chaga, e só vou citá-la rapidamente porque até mesmo entre os religiosos existe uma profunda consciência de que essa é uma triste realidade. Então você tem pessoas que querem usar a palmatória em meio mundo, mas não consertam suas próprias vidas, nem mesmo superficialmente.
O maniqueísmo é uma constante. Todo o pensamento da pessoa maniqueísta é bifurcado e condicionado a entender absolutamente tudo a partir desses conceitos de bem e mal . Até mesmo a arte, a filosofia e a ciência sofrem o ataque dessa praga. Tenho pavor do maniqueísmo; não porque eu seja bonzinho ou ponderado, mas porque procuro evitar essa asfixia mental.

Mas o meu objetivo aqui não é descer a lenha em religiosos, nem nunca foi em outra ocasião. Claro que os religiosos são peças fundamentais na continuidade das crenças, pois sem eles desapareceriam todas elas. Mas rejeito os ataques e consigo até vislumbrar pontos positivos em se acreditar em algo, embora não tenha certeza de que o mundo estaria pior sem as crenças.

Outro ponto embaraçoso: amar a Deus.
Como posso amar algo que está à parte da vida como eu a conheço, ou seja, como ela é?
Se tento compreender Deus – o que é essencial para qualquer um que se torne crente - preciso estudá-lo, conhecer os porquês, as mensagens, os eventos. Agora vamos contar com a hipótese de que eu aceite tudo o que está escrito na Bíblia como sendo verdade verdadeira, sem contestar nada...o que tenho como resultado? Um conceito.
Não posso amar um conceito, é desumano, desgastante; algo parecido com isso só pode acontecer nos limites do intelecto. Sendo assim, o que eu tenho não é amor, mas um conceito fechado que se aderiu à minha vida por conta da vontade e do pensamento. E o mais estranho é que grande parte do cristianismo defende que quem começa esse “movimento” de amor é o próprio Deus. E mais estranho ainda é quando um religioso fala do amor verdadeiro e do amor falso. O amor que acontece com as “coisas da vida” seria uma paixão = falso, enquanto que o único amor verdadeiro gira em torno de Deus, ou seja, do conceito. Isso reforça a minha tese de que Deus é algo que está à parte do mundo e da vida.

Vou confessar algo: eu já fui um fundamentalista religioso por duas semanas.
Simplesmente acreditei em tudo na Bíblia, sem contestar; fazendo as conexões mais variadas entre todos os eventos daquele livro, montando assim um quebra-cabeça. Lembro de que aceitei a existência de Deus como uma verdade incontestável e absoluta. Foi uma experiência confusa e desesperadora.

Hoje, olhando em retrospecto, posso ver quantos malabarismos minha mente fez para aceitar aquelas conexões bíblicas, relacioná-las com acontecimentos da minha vida e...*Cabrum!*. Deus existe.
Era uma fase delicada pela qual eu passava. Em momentos assim, todos queremos ter uma certeza, ainda que essa certeza não seja um consolo, como no meu caso. Acreditar em Deus não foi um refrigério para as angústias daquele momento difícil; muito pelo contrário. Ele existia, de fato, mas não me atenderia, pois para mim estava claro que o meu destino seria o mesmo que o dos dois terços da humanidade – a condenação eterna.
Eu lia muito o Antigo Testamento, e acho que a melhor analogia que eu encontro é a de um garimpeiro. Para cada criatura salva ou escolhida de Deus existia centenas de danados. Essa é uma das coisas mais incompreensíveis na lógica divina. Como nunca tive sorte na loteria, nunca fui santo e nunca gostei de enganar a mim mesmo, era evidente – Naquele Dia eu não estaria entre os salvos.

Com o passar de algum tempo, a vida foi entrando nos eixos, meu desespero foi desaparecendo pouco a pouco – cheguei até a pensar que Ele tinha enfim me perdoado.

Um crente que não leva uma vida totalmente entregue à religião é como alguém que diz torcer para um time apenas para não ficar sem resposta. Ir para a igreja e fazer discursos moralistas é mais uma manifestação de anseio e loucura humana do que de fé.
Apenas acreditar em um conceito e vestir uma camisa é algo pequeno e superficial demais se comparado aos resultados da prova dos nove fora. Em outras palavras, é absurdo demais pensar que uma pessoa pode sofrer eternamente, recebendo um pesado castigo divino, apenas porque ela não abraçou um conceito. E a diferença entre quem abraça o conceito e quem não abraça parece ser um mero detalhe - mais ideológico que espiritual.
Eu disse que qualquer absurdo por trás do mistério da existência é possível e aceitável, mas esse tem a capacidade de ultrapassar todos os limites: a razão espiritual.
Se o espírito não estiver condicionado a um dogma ele se torna nulo. É preciso dar razão ao espírito usando a mente - crença. Algo mais contraditório que isso me parece impossível.

O fato é que hoje acredito muito na vida para poder acreditar em Deus. E como essas duas coisas, vida e Deus, são inconciliáveis, optei por uma e esqueci da outra.
As minhas “questões” expostas aqui são só uma pequena parte das muitas duvidas que de certa forma ainda me fazem coçar o queixo. Ficou faltando, por exemplo: a questão das centenas de religiões espalhadas pelo mundo e pelas outras épocas, a fragmentação do cristianismo, a obsessão dos cristãos com assuntos como sexo e cultura, as incongruências bíblicas, a ciência...

Saturday, August 27, 2005

Suicídio

Acreditava que a eternidade traria de volta todos os bons momentos da vida, como em um filme que se reprisa.

Matou-se de saudades.

Saturday, August 20, 2005

Oh, ele sabe que eu existo!

Recentemente vi (claro que pela tv) o Pelé visitando a Alemanha.
Praticamente roendo as unhas, ele esperou ansioso pela aparição do Papa, que acenou de longe quando finalmente surgiu escoltado pelos seguranças.
Quando a repórter foi fazer uma daquelas perguntas idiotas que repórteres adoram fazer, Pelé veio com algo mais ou menos assim:

- É...ele não passou a mão na minha cabeça, nem chegou muito perto. Mas você viu que, de longe, ele acenou para cá!

Acho que nesse momento, percebendo que tinha forçado a amizade, ele tenta consertar o infeliz comentário:

- Acenou aí para todo o Brasil, né?!

Apenas tentou; melhor seria se tivesse parado no primeiro.

Eu tenho verdadeiro asco por esse tipo de comportamento. É uma das coisas que mais me irritam no brasileiro.
O sentimentalismo boboca e infantil, a necessidade de chamar a atenção, como um cachorrinho dócil e domesticado, essa coisinha de: "ele acenou pra cá! Olha lá!", "ele sabe onde fica o Brasil! IUHHUUU", "Você viu? Ele falou português!", "Ele tocou na bandeira!!"
Eu definiria isso como uma mistura de tietagem e patriotismo barato. No caso do Pelé, ele se prevaleceu desse defeito nacional para corrigir o comentário onde ficou evidente o que ele mais queria: que o Papa afagasse aquele ego sem tamanho que ele tem - infâmia completa.
Ainda assim, tenho certeza de que muita gente embarcou na emoção barata vendo aquela reportagem.

O patriotismo, por si só, já é um sentimento incompreensível para mim. Quando acompanhado de infantilidade, então...
Eu até entenderia o Pelé, caso ele tivesse 17 aninhos; mas em um homem com mais de cinquenta isso é duro de entender.

Friday, August 19, 2005

Ó sino da minha aldeia

(Fernando Pessoa)

Ó sino da minha aldeia
Dolente na tarde calma
Cada tua badalada
Soa dentro de minh'alma
e é tão lento o teu soar
Tão como triste da vida
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida

Por mais que me tanjas perto
Quando passo sempre errante
És para mim como um sonho
Soas-me na alma distante
A cada pancada tua
Vibrante no céu aberto
Sinto mais longe o passado
Sinto a saudade mais perto

Thursday, August 18, 2005

Sobre amores, relacionamentos...

Quando amigos me dizem que esperam por alguém assim, assim ou assado, que faça isso, isso ou aquilo, e que preencha o vazio da existência, eu fico calado e ouvindo. Outros amigos, contando casos, fazem de tudo: perdoam uma porção de coisas, aceitam atitudes abomináveis e eu, para não ser desagradável, apenas ouço. Sim, porque se fosse para proferir algo, seria para dizer o quanto tudo aquilo é perda de tempo; ou perguntar o que diabos estão fazendo que ainda não caíram fora, dando belos chutes em desprezíveis traseiros.

Não posso conceber um relacionamento sem os jogos de observação. Não, não falo de jogos no sentido vulgar - intriguinhas e patati patatá. Os jogos a que me refiro são interessantes observações egocêntricas. Consiste em perceber e questionar cada passo e cada manifestação que ocorre na nossa própria mente durante um...envolvimento.
Ganha quem conseguir conter os impulsos de paixonite aguda e idiota. E o prêmio é poder desfrutar do privilégio de estar acima de qualquer fraqueza estúpida - dessas que roubam as energias vitais.
Mas não basta conter esses impulsos; é preciso sair da jogada com maestria, sem deixar rastros.

O problema é que para que o jogo seja interessante é preciso ser passional; ou seja, você tem que estar sujeito a esses impulsos para que a luta seja de igual para igual. Do contrário não tem a menor graça.
Quando todas essas coisas de adolescente já não fazem tanta diferença quanto saber da quantidade de grãos de ervilha que você comeu no almoço. Bem, quando é assim...game over.

Há muitos anos vi uma cena de novela bem incomum, que nunca me esqueço. Lembro que era a Claudia Abreu em um restaurante, bêbada, xingando um casal de figurantes porque eles estavam se beijando. O que dizer? Se for para chegar a esse grau de amargura, é melhor se entregar à paixonite. Mas um pouco de cautela sempre cai bem, embora eu não diga isso para meus amigos.

Uma variação sobre o mesmo tema: leiam!

Fogo de palha

Meu cabelo anda muito ressecado. Penso que se o vento fizer alguma gracinha com as cinzas do meu cigarro, minha cabeça se transformará em uma tocha fumegante, deixando-me careca em questão de segundos.

Tuesday, August 09, 2005

O ataque dos clones

A falta de personalidade é uma das coisas mais horripilantes que há. Pior que o mau gosto, pior que a burrice, ela se alastra como um verme propagador de um tipo de deficiência que é ao mesmo tempo triste e vergonhosa.
Juro que ficaria corado se todos os meus pensamentos fossem a repetição descarada de coisas que alguém escreveu em algum lugar - ainda que esse lugar seja restrito a um número pequeno de pessoas.
Para o meu desespero, passeando pela internet, o que eu vejo é uma falta de personalidade generalizada: é um tal de repetir as mesmas coisas (até as merdas) sem a menor cerimônia; copiando o estilo, os cacoetes, os gostos...

No período A. PC (antes do PC) da minha vida, nunca supus que as pessoas fossem tão desprovidas de personalidade assim - lá se vai mais um fiapo da minha fé na humanidade.
Acho que era Oscar Wilde que dizia que esse é o tal pecado mortal de que tanto falam - a falta de personalidade.
As excessões são raríssimas, e de cada cinco blogs que eu visito, três copiam as idéias e os maneirismos que eu já vi em algum lugar. É um fenômeno muito estranho e comum que deveria ser estudado pela psicologia.
Mas não deixo de me divertir um tantinho com algumas coisas: metade dessas xerox descaradas tem a mania de ditar regrinhas de (oh!) como fazer um blog super trislegal e cool. Eu fico gargalhando.

Ah, e por favor, parem com essa merda de escrever "sim, sim"

Sunday, August 07, 2005

Ah, então tá!

Fica assim registrado, como incontestável verdade, que na Idade Média as pessoas eram muito sábias, puras e infalíveis em todos os aspectos da vida. Que todos viviam na verdadeira paz e na santa ordem, pois os homens desenvolviam plenamente o espírito - na justiça e na retidão. Que os valorosos cavalheiros eram muito educados e as mulheres eram todas exemplares de profunda integridade moral. Tudo seguia a ordem na beleza, a beleza na ordem...
Que fique também claro que na Idade Média todo mundo cheirava bem; a humanidade, vivendo em perfeita harmonia, não exalava qualquer tipo de odor desagradável. Muito pelo contrário, as pessoas transpiravam o mais puro e delicado perfume de gardênia na Idade Média.
Os corpos das pessoas da Idade Média eram translúcidos e irradiavam uma luz fascinante, que piscava e fazia aquele barulho de brilhinho sempre que elas se locomoviam - um mimo!
Ninguem defecava na Idade Média; também ninguém tinha bafo ou cc nesse período idílico e fabuloso; essa perfeita mágica dos tempos passados.

São pessoas muito estudadas que dizem isso. Quem sou eu pra discordar?
Eu,-este-pobre-camponês-colhedor-de-amoras,-que-vive-em-uma-casinha-de-sapê-no
-topo-da-montanha-e-dia-sim,-dia-não-é-assombrado-pela-bruxa-Malacatucha.(?)

Transporte público

Pagamos os olhos da cara para andarmos sobre mulas sonolentas.

Sunday, July 31, 2005

Cotidiano

Na mesa de reunião:

- Vocês já devem conhecer a política da empresa. Nós não contratamos pessoas que tenham qualquer grau de parentesco umas com as outras!
- U-hum!
- De acordo!
- Mas eu fiquei sabendo, por conversas, que você namora o irmão dele!
- Como?
- Espera aí...você quer dizer que só porque eu namoro o irmão dele, isso o torna meu cunhado? É?
- Veja bem, nós não admitimos pessoas da mesma família aqui...!
- Mas nós não somos da mesma família! Há um sério equívoco aí.
- Sinto muito, é a política da empresa, ok? Um dos dois vai ter que sair!
- ...
- Eu não estou ouvindo isso!
- ...
- Tá! Eu namoro o irmão dele...e daí? e daí? Não seja por isso; eu termino o namoro agora mesmo. Cadê o telefone!?

Thursday, July 21, 2005

...e maravilhou-se quando ouviu o som da própria voz.

O problema do filho da puta é que ele se encanta com a sua própria filhadaputice.

Sunday, July 10, 2005

Hum!

Segundo um spam que recebi, a oitava lição do empreendedorismo é: conduzir com paixão.

Pois sabe que é isso mesmo? Digo, é exatamente assim que se deve carregar uma cruz.

Friday, July 01, 2005

Onde está a bondade?

O que é essa mania que as pessoas têm de esbugalhar os olhos quando você faz uma "boa" ação?
Não falo de grandes sacrifícios em benefício ao próximo ou demonstrações de caridade porque para essas raridades ainda se abre uma exceção. Eu me refiro à ações pequeninas...rasas mesmo; daquelas que você faz mais por educação que por bondade. Aliás, cada vez que alguém se espanta com a (oh!) bondade de alguma suposta boa ação minha, tenho ganas de dizer para esse alguém que não sou bom de forma alguma; que estou longe de me preocupar com a humanidade, e que se ele não ficar esperto e não parar de ser pamonha, sou capaz de fazer uma maldade da próxima vez, só para equilibrar a balança.

Tem horas em que eu pressinto uma coisa estranha no mundo e nas pessoas. É uma sensação tão forte que chega a ser física. Mais ou menos como se tudo ao meu redor não passasse de um imenso teatro sinistro, com atores combinando falas e ensaiando em alguma espécie de coxias da vida. E o triste é que, mesmo conhecendo todo o roteiro, parecem estar sempre de prontidão para uma conspiração inesperada; um golpe traidor; uma facada nas costas, ou algo assim. Daí a surpresa diante de qualquer coisinha que lembre uma boa ação.
Não sei o que é pior: se ficar esse estado de alerta, ou se acreditar de vez nas pessoas.

Facciamo cosi

Olha o carro...
Agora olha os bois!
Olhou pros dois?

Wednesday, June 22, 2005

Velvet Underground

CRIMSON AND CLOVER

Ah, now I don't hardly know her
But I think I could love her
Crimson and clover

Ah when she comes walking over
Now I've been waitin' to show her
Crimson and clover over and over

Yeah, my, my such a sweet thing
I wanna do everything
What a beautiful feeling
Crimson and clover over and over

Crimson and clover over and over

A Estranha Maldição

Descobri que gosto de filmes e romances policiais. Antes, por pura falta de interesse, eu passava longe de tudo o que envolvesse solução de crimes misteriosos, detetives e etc.
Lendo A Estranha Maldição, de Dashiell Hammett, fui obrigado a passar em vista todos os meus preconceitos com relação ao gênero. Aqui não é só a solução do mistério que faz o livro interessante; tem também os diálogos intrigantes, as situações absurdas ( porém críveis) e a ausência de clichês.
Um desses contornos de clichês, para não mencionar o do assassino misterioso, é o do detetive durão. Um dos motivos da minha suspeita diante do gênero policial era essa coisa do herói turrão -o fodão da história. Tenho aversão a autores que tentam conquistar o leitor com esse tipo de artimanha. Um bom personagem não precisa ser exagerado para me cativar; aliás, sou dos que consideram secundárias as idiossincrasias de personagens; deixo essas coisas sempre para segundo plano.
O detetive de A Estranha Maldição simplesmente não tem tempo para ficar desfilando uma suposta fodice, ou imprimir em cada página um: "Eu sou demais!" - as coisas vão acontecendo com tamanha rapidez, que sua atenção (a do leitor) é obrigada a se espalhar por todos os aspéctos do romance, inclusive os descritivos. E isso é emocionante.
A maldição, a hipótese do sobrenatural, não pode ser descartada em nenhum momento, embora o detetive pense o contrário; e se eu "desse ouvidos" a todas as falas dele (por ser fodão) o romance perderia a metade da graça.
Estou quase no fim do livro; lendo bem devagar, com aquele dó de terminar. Mesmo que o final me decepcione, coisa de que duvido muito, o livro já é um dos meus clássicos. Ainda quero ler tudo de Dashiell Hammett.

Monday, June 20, 2005

aves migratórias

Invejo os homens que precisam de heróis.
Eu não consigo precisar de heróis.

Saturday, June 18, 2005

Submission

Janer Cristaldo deixou um link para a matéria e entrevista com a deputada holandesa Ayaan Hirsi Ali.
Trecho:

Der Spiegel
- Agora é a sua vez de falar como se fosse uma mártir de uma causa. Os terroristas de 11 de setembro de 2001 também morreram por uma idéia.

Hirsi Ali - Eu gostaria de fazer uma distinção a este respeito. Se todos nós permanecermos sem fazer nada e em silêncio, haverá muito mais do que uma ou duas pessoas mortas apenas. Eu prefiro acompanhar o pensamento do filósofo Karl Popper (Sir Karl Raimund Popper, austríaco, 1902-1994). Ele explica que a liberdade nunca pode ser dada como garantida. Ela é vulnerável. Todos nós devemos lutar por ela e estar dispostos a morrer por ela.

A cena islâmica é muito agressiva. Esses muçulmanos que pretendem matar pessoas recebem fortes apoios dos seus países de origem. Existe muito dinheiro para tanto, existem muitos patrocinadores interessados e existem quantidades de pessoas desesperadas que optam por seguir este caminho. Nós temos que nos proteger se quisermos preservar os nossos valores ocidentais. O preço que nós pagamos por isso são essas ameaças de morte.

Link para a entrevista completa.

Friday, June 17, 2005

Pobre de quem...

Ai, ai...os suscetíveis! Tão cômicos em suas su-su-su-suscetibilidades banais.
Deve ser dura a vida de quem leva tudo o que não seja um elogio escancarado para o lado da crítica ácida ou do puxão de orelha malvado.
Vem, ataca o tio, vai...chuta o titio! Quem sabe se não alivia todo esse ressentimento...

Suspeito de que essas pessoas sofram muito na vida. Fazê, né...?

Um sambinha do Noel Rosa, pra descontrair:

Filosofia

O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se eu vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia a viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim, vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim

Ele não tira o chapéu!

Sobre esse questionário literário que andou circulando pela interNeide: que livros você leu? Que livros sua mamãe te deu, blá, blá, blá, blá...
Não perco tempo lendo aquilo tudo: vou direto naquela questão dos livros da ilha deserta, que é a única relevante.
Pasmem: tem gente temente a Deus que levaria um balaio de tratados filosóficos e teologia do padre para a maldita ilha deserta, mas não levaria...a Bíblia!
Eu, hein!

Mikhail Bakunin

Em um site anarquista encontrei o discurso de Mikhail Bakunin no Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores. Segue abaixo:

"Detesto a comunhão, porque é a negação da liberdade e porque não concebo a humanidade sem liberdade. Não sou comunista, porque o comunismo concentra e engole, em benefício do Estado, todas as forças da sociedade; porque conduz inevitavelmente à concepção da propriedade nas mãos do estado, enquanto eu proponho a abolição do estado, a extinção definitiva do princípio mesmo da autoridade e tutela , próprios do Estado, o qual , com o pretexto de moralizar e civilizar os homens, conseguiu até agora somente escravizá-los, persegui-los e corrompê-los. Quero que a sociedade e a propriedade coletiva ou social estejam organizadas de baixo para cima por meio da livre associação e não de cima para baixo mediante da autoridade , seja de que classe for. Proponho a abolição da propriedade pessoal recebida em herança, a qual não é senão uma instituição de Estado, uma consequência direta dos princípios do Estado. Eis aí senhores por que eu sou coletivista e não comunista".

Sonhos

Sonhar de menos é se inteirar com a realidade, e vice-versa. É por isso que costumamos dizer que quem sonha demais não vive. Aliás, muita gente se confunde com essas duas coisas.
Creio que a saída seja simplesmente não sonhar. Estar sempre alerta pode soar como um exagero, mas é uma medida útil para a vida prática e cotidiana.

Falando agora daquele sonho que temos ao dormir: Há um tempo atrás eu despertava de um sonho sempre que percebia que estava sonhando. Descobrir que tudo não passava de um sonho era a regra para que o feitiço fosse quebrado e eu imediatamente acordasse, muitas vezes irritado. Era como se a máscara caísse e eu não tivesse mais nada a fazer a não ser sumir (acordar). Percebia o sonho e tinha noção de uma farsa que julgava impossível sustentar apenas com a imaginação; e lá ia eu de volta para a vigíla, mais por lei que por vontade.
Ultimamente não tem sido assim. Não acordo quando percebo o sonho, e além de não acordar fico o tempo todo olhando para aquelas imagens e sons desgovernados, com uma frieza espantosa. E ainda represento: faço de conta que estou sonhando... nunca se sabe, né? Já que a lei é acordar assim que perceber a farsa, talvez permanecer no sonho nessas condições seja uma forma de intromissão naquele universo de pessoas e cenários fantasmagóricos. Vai que aquelas figuras oníricas fiquem com raiva e resolvam me matar enquanto estou dormindo? É por isso que, por via das dúvidas, não sei de nada, ainda estou sonhando...
Mas não me privo de fazer pose de macaco velho: Pensam que me enganam só porque estou dormindo, não é? Saibam que com Franz as coisas não funcionam assim, pois teco...mas não funcionam mesmo...

Sinceramente não sei como explicar este fenômeno. Talvez eu esteja ficando velho e realista demais.

Wednesday, June 15, 2005

Vamos brincar de montagem?

Prestem bem atenção nas figuras abaixo. São dois momentos de Rita Hayworth no filme Gilda (1946)
A
B

Percebam que na primeira figura (A), Rita observa da janela alguma coisa que acontece do lado de fora - apesar de ela estar de costas, eu arriscaria dizer que neste momento ela franze o sobrolho, fazendo um baita esforço para descobrir o que diacho se passa . Na segunda figura (B) vemos a Rita voltando da janela com a curiosidade já devidamente saciada. Notem que apesar do semblante tranquilo- como o de alguém que diz: "Ufa! Ainda bem que não é nada!"- Rita traz um certo desapontamento no rosto, e sorri meio embaraçada , como que querendo vencer o constrangimento (sei que a imagem não está muito boa, mas examinem bem..não é invenção minha).
Pois sim, a brincadeira que eu proponho é criar versões com falas para os dois momentos; sendo a fala da figura B meio que uma consequência do que ela viu na figura A. Vejamos como fica:

1)
A - Olha, mais uma declaração do Palocci!
B - Nevermind!
2)
A- Olha, mais uma notícia do caso Michael Jackson!
B - Está sentindo um cheiro de barata?
3)
A- Olha, um novo tema para o debate entre direita e esquerda!
B - Tem couve na sua gengiva!
4)
A - Olha, um casamento entre militares gays no Canadá!
B - Que se fodam!
5)
A - Olha, mais um filme de kung Fu!
B - Meu cabelo tá feio?
6)
A - Olha, mais um político fazendo análises cronológicas do partido!
B - Cê viu minha escova?
7)
A - Olha, conservadores falando sobre moral e relativismo!
B - Aceita uma garapa?
8)
A - Olha, a Marta na TV!
B - Por favor, diga que meu cabelo não está feio!

Viram as inúmeras possibilidades que a Rita nos ofereceu com esses dois momentos? É só escolher uma...ou criar muitas outras.

A fita do vestido da Rita no momento A e no B tem cores diferentes, eu sei - falha de continuidade. O cenário também é praticamente outro; mas quem se importa, não é mesmo?

Súplicas


No Zero Hora de 12 de Junho, Olavo de Carvalho, o Olavo Bilac da filosofia brasileira, faz a distinção entre o embate esquerda e direita do Brasil e dos Estados Unidos, ressaltando o que todos os que conhecem seus textos já estão carecas de saber: aqui no Brasil existe a predominância do pensamento de esquerda, em todos os domínios, conquistada na base da muita agressividade e da falsificação. Segue com um puxão de orelha na direita tupinambá, pois esta só se fixa no debate quando os assuntos giram em torno de questões econômicas - a defesa do capitalismo - deixando de fora outras questões, tais como: morais, culturais, filosóficas e religiosas. E fecha o texto com uma espécie de clamor para que a direita perca a inibição diante das outras questões que não as do pocket.

Ai meu santíssimo tridente. Quando se restringe à economia o debate esquerda/direita- volver já é um porre sem tamanho, imagina como não será quando finalmente abranger questões morais, filosóficas e religiosas - o que de certa forma já acontece.
Eu imploro! Alguém convença o Olavo de Carvalho a desistir desse tipo de incitação, antes que seja tarde. Antes que os gravadores e amplificadores comecem a agir como impulsores da moral e da filosofia. E isso é uma injustiça para com os desprovidos de elasticidade sacal.
Por favor, atendam meu pedido. Este clamor não é velado, não está nas entrelinhas. É aberto e desesperado - vou correr pelado por aí, como forma de protesto.

Diálogos pertinentes

Winamp, winamp meu, pra quê Janis Joplin se eu posso ouvir Blind Willie McTell cantando "Tain't Long Fo' Day"?

O Beijo

O beijo é um gesto platônico. Uma boca saudável é como uma água saudável; tem que ser insípida, inodora e incolor, para ficarmos apenas na saliva.
Um beijo não é doce por causa de uma sensação real de doçura, mas sim porque quando beijamos, encerramos um sentimento ou uma sensação ideal no gesto. E o doce, por ser agradável, é o escolhido para essa hora. Talvez, em uma vida passada, as pessoas tinham bocas doces, e a ânsia pelo beijo é uma forma de reavivar a memória desse passado sublime. É como um bico-de-princesa, que nós sugamos não para obter uma sensação imediata, mas apenas uma vaga idéia - o doce.

By the way, "beijo doce" é uma expressão muito vulgar.

Tira a trave primeiro.

Lendo meu texto anterior:

"É rápido e brusco como um mar revolto... é a violenta dinâmica da vida".

Ai de mim, que não me enxergo. Isso depois de ter chamado de pomposa a frase do Napoleão.
Eu poderia me abster do comentário, ou ter apagado a frase, mas não tive alternativa;
passar pelo vexame é imprescindível para que eu aprenda.

Sunday, June 12, 2005

Disse que disse

Estava procurando o Napoleão, livrinho de cem páginas da coleção clássicos econômicos (insira um saquinho de risadas aqui). O nome da coleção é esse por causa do preço de cada exemplar (2 reais).
Daí entonses, não é que eu encontrei todos os outros livrinhos econômicos, menos o que eu queria? Estou *arretado* com isso. Tenho o famoso Conto de Natal do Dickens, Aforismos de Oscar Wilde, Comedor de Ópio, de Baudelaire e O Chamado da Floresta, de Jack London. Comprei todos numa época de grana curta (digo, curtíssima...curta ainda é) quando não conseguia conter meus impulsos livrescos "apesar dos farrapos", como diria uma amiga.
Mas eu queria achar o Napoleão para reler o que ele disse sobre suicídio. Só consigo lembrar que ele condenava o suicídio com uma frase pomposa do tipo: "Nenhum homem tem o direito de tirar a própria vida...". Mas me esqueci dos argumentos; e eu quero argumentos, ora pois.

Calma ainda, não estou pensando em me matar. A vida até que está encantadora, vai; mas é que algo me fez pensar no tema "suicídio", e eu fiquei tentando me lembrar do que Napoleão disse. Não gosto quando a minha memória falha.
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Acho esquisito quando alguém desmerece o pensamento de um filósofo, alegando que este teve uma vida perturbada; ou que acabou se matando. Que alegação mais sem sentido!
Claro que um caminho que finda no suicídio não parece lá muito seguro, e todo o mundo sabe que o pensamento é traiçoeiro, tem armadilhas; mas daí a evitar um filósofo só por causa disso é besteira. Eu não preciso comprar as idéias que leio, nem absorvê-las em definitivo, porque só terei noção da validade delas quando se der o inevitável confronto com a experiência. Basear uma vida no pensamento ou nos conceitos é um erro, e se por um acaso o filósofo cometeu esse erro, por que eu o cometeria novamente?
Atribuir à filosofia a causa do suicídio não muda nada. O suicídio pode vir de um lapso ou decepção; e qualquer pessoa, por mais forte e mentalmente íntegra que esteja, pode passar por esse lapso, que é de uma rapidez leporina. É rápido e brusco como um mar revolto... é a violenta dinâmica da vida.

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Peter Bogdanovich é o diretor de The Last Picture Show (A Última Sessão de Cinema), um dos meus filmes favoritos.
Às vezes eu entro em um site ou blog que me interessa, mas acabo não voltando mais, simplesmente por ter perdido o endereço.
Faz alguns meses entrei em um blog e o garoto fazia uma espécie de enquete, pedindo para que os leitores lembrassem de diretores de um filme só, ou seja, que fizeram apenas um filme bem sucedido e depois pararam com o cinema, ou caíram no ostracismo. Ele mencionou Michael Curtz com Casablanca; e eu lembrei de William Friedkin com O Exorcista, que depois fez um ótimo filme de tribunal, mas foi fraco nas bilheterias. Acho que mencionei também Afonso Arau e Como Água para Chocolate.
Agora eu lembro que a carreira de Peter Bogdanovich foi um contínuo fracasso depois de The Last Picture Show, e queria voltar no blog do garoto e avisar, mas perdi o endereço. Malz!
Quero muito rever esse filme. Muito, muito, muito, muito! É com Ellen Burstyn (O Exorcista), Ben Johnson, e Cybill Shepherd.

Saturday, June 11, 2005

This Happy Madness

A canção Estrada Branca, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, foi uma espécie de hino da minha adolescência - época em que fui extremamente romântico e gostava de curtir uma dor de amor das boas. Hoje, já chegando nos 25, não tenho mais tempo nem cabeça pra isso.
Mas eu quero falar da música e de como as duas versões, que vou postar abaixo, são distintas uma da outra. A canção original fala de uma dor profunda e de solidão; rimando caminho com sozinho, noite alta com falta, e finalizando com um retumbante: "...vou caminhando com vontade de morrer." A versão em inglês (americana), por outro lado, está longe de tentar traduzir o sentido da Estrada Branca de que fala a música, seguindo um caminho completamente oposto ao da canção original; e está mais para uma rasgada declaração de amor que para um lamento.

Embora as duas versões tenham a participação de Tom e Vinícius, a versão em inglês de certa forma atende a um outro tipo de público, não muito chegado as lamúrias da mpb. Então, a minha teoria é a de que os americanos gostam de imprimir uma esperança nas coisas. É o velho hábito de pensar alto e encarar o lado positivo de tudo, custe o que custar. No caso dessa música o resultado foi bom, mas em outras ocasiões fico com a pulga atrás da orelha. Ex: ontém estava eu na rede (a de navegar, não a de deitar), entrando em blogs aleatoriamente, como gosto de fazer, quando me deparo com um blog do Texas, cujo texto mais recente era sobre a morte de um amigo do blogueiro em questão. O motivo da morte foi a queda do avião que o rapaz pilotava - ao que tudo indica voar era a maior paixão da vida dele. Pois bem, o cara escreve um texto falando da paixão do amigo, da forma como ele abraçava os sonhos e os objetivos, da importância de vivermos cada momento como se fosse o último; com conselhos de vida, mensagens positivas e todas aquelas coisas que a gente vê nos filmes; mas deixou de fora um ponto crucial: a dor. Minha nossa, se um dos meus amigos morre eu ficaria tão arrasado que não teria condições nem de escrever no blog, que o dirá se fosse para falar da paixão, que nesse caso vitimou o amigo; e se o fizesse seria pra tentar exorcizar a minha tristeza...ou, no lugar dele, culpar a paixão por pilotar, xingar o avião, sei lá. E estaria inconsolável demais para pensar em conselhos e sonhos de vida. E não adianta falar que a dor do cara já tinha sido estancada porque o post foi escrito um dia após o desastre.

Mas voltando ao tema inicial: A começar pela letra, a versão americana já destoa completamente de Estrada Branca: This Happy Madness (Essa Feliz Loucura). É engraçado ouvir duas músicas com a mesma melodia mas com letras praticamente antagônicas (o piano da versão Happy Madness é de arrepiar). Sei que é meio ridículo ficar fazendo análise poética de canção, então comparem vocês mesmos e vejam a diferença entre as duas letras.

ESTRADA BRANCA
(Tom Jobim/ Vinícius de Moraes)

Estrada branca, lua branca, noite alta, tua falta
Caminhando, caminhando, caminhando ao lado meu
Uma saudade, uma vontade tao doída, de uma vida, vida que morreu
Estrada passarada, noite clara, meu caminho é
tão sozinho, tao sozinho a percorrer
Que mesmo andando para a frente, olhando a lua tristemente
Quanto mais ando, mais estou perto de você
Se em vez de noite fosse dia, se o sol brilhasse e a poesia
Se em vez de triste fosse alegre de partir
Se em vez de eu ver só minha sombra nessa estrada
Eu visse ao longo dessa estrada, uma outra sombra a me seguir
Mas a verdade é que a cidade ficou longe, ficou longe
Na cidade, se deixou meu bem-querer
E eu vou sozinho sem carinho, vou caminhando meu caminho
Vou caminhando com vontade de morrer.

THIS HAPPY MADNESS
(versão de Estrada Branca)
Tom Jobim/ Vinícius de Moraes/ Gene Lees


What should I call this happy madness that I feel inside of me?
Somekind of wild October gladness that I never thought I'd see
Whatever happened to my sadness, all my endless lonely sighs
Where are my sorrows now?
What happened to the frown and is that self contented clown
Standing there grining in the mirror really me?
I'd like to run through Central Park
Carve your initials in the bark of every tree I pass for everyone to see
I feel that I've gone back to childhood and I'm skipping through the wild wood,
So excited that I don't know what to do
What do I care if I'm a juvenile?
I smile my secret smile because I know the change in me is you
What should I call this happy madness all this unexpected joy
That turned the world into a baby's bouncing toy?
The gods are laughing far above
One of them gave a little shove and I fell gaily, gladly madly into love

Friday, June 10, 2005

Under the Volcano

Não sei se me gabo pelo meu poder imaginativo ou se acho natural a minha capacidade de ter imaginado a rua Calle Nicaragua tal como ela existe de verdade. Como a imaginação pode ser bem melhor que a realidade, acho que eu deveria era me envergonhar por tê-la de modo tão tacanho. Mas taí a rua, como se tivesse sido estraída da minha mente:


Non si puede vivir sin amar

E tem mais de onde veio essa.
E tá aqui o link para o site, que tem bastante coisa interessante: sumário dos capítulos, biografia de Lowry, links, críticas, etc...

Memórias III (com fundo moral)

Quando eu tinha onze anos, no longínquo verão de 91, ganhei um pintinho. Meus primos também ganharam. Eram pintinhos coloridos, então cada qual ganhou um de cor diferente—o meu era amarelinho.
Como vivíamos em um casarão com um vasto quintal, não parávamos quietos: era corre-corre, pega-pega, cuz cuz e mais uma porção de brincadeiras que exigiam sebo nas canelas.
Não preciso dizer que muitos desses pobres pintinhos foram pisoteados por nossos pezinhos ágeis e inconseqüentes. E cada vez que um pintinhos era massacrado, havia uma comoção geral, com tristeza maior para o respectivo dono—que ainda conseguia distinguir a cor de seu pintinho, confundida com sangue nas peninhas retorcidas.
Eu vivia com medo de que meu pintinho fosse o próximo a ser pisoteado, e na medida do possível evitava correr pelo quintal. Mas eu não podia controlar os outros, e um belo dia, chega a minha vez; ou melhor: a vez do meu pintinho. Estava lá o bichinho, ainda vivo, com o papinho pro ar e um pouco das tripinhas recém espragatadas para fora. Segurei ele por alguns instantes, com o coração doido, mas na esperança de que poderia haver salvação para a vida daquele bichinho; e nisso tive a apressada idéia de juntá-lo aos demais sobreviventes-- no total de nove, restaram quatro -- que a essa altura já estavam devidamente protegidos por uma cerquinha de arame (medida tardia).
Como eu estava sozinho no quintal, ninguém me alertou para os perigos do meu procedimento. Eu estava ali, naquele momento, sendo movido por um sentimentalismo extremado, pois estava crente de que a companhia dos outros pintinhos faria com que meu bichinho recobrasse a plena saúde; cheguei até a refletir sobre a relação entre tristeza, doença e solidão.
Mas qual não foi meu espanto e horror quando depositei o pintinho no viveiro. Presenciei, estarrecido, uma cena indelével: os outros quatro avançaram na tripinha exposta do meu pintinho, e bicando ela com tanta fúria, que extraíram o restante de tripa que ainda estava no corpinho dele—enfim, foi um banquete sinistro, que me deixou paralisado, sem a menor ação.
E foi naquela tarde que tive a revelação e o ensinamento que carrego até hoje comigo:
A vida em grupo é um perigo, e a sociedade é o resultado da soma dos variados grupos de pessoas com interesses em comum. Para se viver em sociedade, é preciso aniquilar qualquer resquício de sentimentalismo e fraqueza; e o mais importante: caso esteja ferido, esconda sua ferida até o fim, não a demonstre por um instante sequer; pois revelar o mínimo de uma ferida é o mesmo que pedir para que os outros exponham ela por inteiro, com crueza e voracidade. Ao menor sinal de uma fraqueza, pisam com gosto, para descobrir as demais, até reduzi-lo a uma espécie de mínimo denominador—material para estudo e lições para os demais. A diferença entre aqueles pintinhos e o resto da humanidade, é que os bichos eram dóceis somente na aparência física, enquanto os homens estendem a docilidade por palavras e princípios. Mas a crueldade é equivalente.

Passado o choque, tirei do viveiro o corpo morto do meu bichinho, caminhei pelas ruas com ele nas mãos (acho que meu rosto estava sereno nessa hora), me dirigi até a ponte, e joguei o meu pintinho no rio.

Coração alado

Nos anos 60 a rede globo estava tendo sérios problemas com a baixa audiência de uma novela, que tinha a Leila Diniz como protagonista. Os índices no ibope eram tão baixos, que a coordenação da emissora resolveu afastar o autor original e em seu lugar contrataram a Janete Clair. A primeira providencia da nova autora foi meter um terremoto na trama e matar quase todos os personagens da novela, sobrando apenas os protagonistas A medida não garantiu audiência, mas o fato entrou para a história.

Hoje, basta eu assistir por quatro minutos uma novela para me lembrar dessa história, e começar a desejar que um terremoto, um furacão, uma tromba d’água, um tsunami, uma bola de fogo cósmica apareça na trama e mate, não a maior parte, mas todos os personagens.

Tuesday, June 07, 2005

O eterno retorno


Os velhos mitos e as pequenas verdades não desaparecem nunca, não é mesmo? E o triste é que eles não existem por si só; não são partes fundamentais da realidade, e nem essenciais pra coisa alguma Trocando em miúdos: os velhos mitos e as pequenas verdades estão ligados à realidade como que por uma solda da cultura. Essa ligação forçada, artificial, vai se repetindo, ao longo das gerações, como se fosse um texto de teatro, que em determinada data deve ser representado—em nome da tradição.

O estigma do “bode expiatório” é um exemplo clássico e cheio de vida.
As cabeças pensantes, quando querem dar um sentido para a História, armam um lindo esquemão de encadeamento de fatores; e vão buscar, não no pensamento, mas em um único pensador, a matéria-prima, a primeira fagulha para armar o esquema escamoso.
E fica assim, tudo muito bonitinho e jeitoso. E o melhor de tudo: você tem a quem culpar (uma cabeça) pelas mazelas de um pedação do processo histórico. Simples, prático e eficiente; isso não é demais?. E a revolta, inevitável para quem quer que analise a Historia, fica assim muito bem direcionada.
É engraçado, por exemplo, pegar Nietzsche, aquela coisinha maguinha e frágil (parece uma rã), e culpá-lo por portentosos estragos no Ocidente. Então, eu tenho o pensamento, o pensador-o bode, e uma série de fatores concretos e históricos para fazer ligações e “click!”, entender toda a realidade que me cerca—ô sabor! É como um daqueles joguinho de montar, que nossas titias davam de presente e diziam: “É um brinquedinho que estimula a inteligência, fio!”
E o passado? Digo, a época anterior ao nascimento do bode-expiatório-cabeção, é pintado como um paraíso fenomenal, pois sim—a verdadeira festa das luzes, onde todos eram felizes e saltitantes. Até, é claro, a chegada daquela maldita cabeça na aldeia.
Porque, vocês não sabem? O livre pensamento não existia naquele passado remoto, e não existia uma pessoa sequer contaminada com essa praga. É tudo culpa da cabeça...e dos malditos livros que ela escreveu.

Métodos para parar de fumar.

Substitua a marca. Troque o seu velho Marlboro por um cigarro bem vagabundo. Ex: um tal de Euro --ô cigarrinho, viu! Esse é (literalmente) intragável.
Feita a troca, e você vai pouco a pouco e gradativamente abandonando o vício. O fumo deixa de ser um prazer.

A comediante

Muito se diz a respeito de Marilyn Monroe, mas sempre que falam do sexy simbol, ou do ícone Marilyn, ou da imortal estrela de cinema, eu sinto que deixam de fora algo de relevante -- Marilyn era muito engraçada.
Poxa! Eu rolo de rir com a Marilyn naquelas comédias anos cinquenta. O jeito meio malicioso, meio ingênuo... as caras e bocas; ou melhor: boquinhas e biquinhos; os trejeitos pequeninos e petulantes, que simplesmente dominavam as cenas. Tudo na Marilyn era comédia pura.
Quem viu Os Homens Preferem as Loiras talvez lembre de uma cena (dentre muitas) engraçada, e que eu considero inesquecível:
A personagem de Marilyn está sendo acusada de roubar uma tiara muito valiosa. Quando ela é finalmente encurralada pela acusadora, a "morena" da história, contando com a inocência da amiga, tenta defendê-la:
-- Vamos querida, diga para ela que você não roubou a tiara!

Não precisou de nenhuma réplica, bastou olhar para a carinha culpada e o jeitinho amedrontado e envergonhado para a morena saber da verdade: Sim, ela havia roubado a tiara.
-- Oh não!
E a acusadora, enquanto se retira, diz:
-- Vocês vão ver que eu não sou nenhuma palhaça!
-- Espere! --diz a morena, detendo a velha, que fica parada na porta-- Então porque usa o chapéu?-- e o chapéu da mulher era ridículo! Enquanto isso a Marilyn, quase que sem usar o texto, demonstra ser uma verdadeira comediante, ganhando a cena com suas caras e bocas.
No mesmo filme, a personagem de Merilyn dá o arranca rabo decisivo em seu futuro sogro. E eu, tal como o velho da história, fico sem entender patavina do que ela diz, simplesmente por estar concentrado demais no jeitinho petulante e nos olhinhos semi-serrados e afoitos da Marilyn.
Gosto muito de Os Homens preferem as Loiras, e também do Como agarrar um milionário, que é onde a Marilyn faz uma quase ceguinha desajeitada, que não vive sem os óculos.

HAHAhahahahahahahah...Ai, ai! My Mistake! Essa é a morena da história...Vira a página aí!
Agora sim. Taí ela...copiada à exaustão.
Não me lembro direito, mas acho que essa é a cena em que elas cantam: "When love goes wrong, nothing goes rightt"
A Marilyn era mó comédia.

Friday, June 03, 2005

Literatura brasileira


A coisa- não- deus
é o primeiro romance de Alexandre Soares Silva, que também escreve neste afamado blog .
Na verdade, o que me levou a adquirir o livro do Alexandre não foi o blog (que creio ainda não existir por essa época), mas sim a leitura que fiz de suas colunas no site Digestivo Cultural. Fiquei curioso em saber como alguém que escrevia tão abertamente sobre literatura, na Internet, se sairia escrevendo um romance.

O livro, narrado em primeira pessoa- o biógrafo do personagem central- conta a história de Júlio Dapunt, um garoto paulistano que está predestinado a ter, após a morte, um...aham destino completamente diferente dos demais. É que para todas as pessoas que vivem (ou já viveram)- e descontando o fato de que para algumas seja possível reencarnar- existirá a eternidade no além, com inferno e paraíso, enquanto que para Júlio está reservado um “desfecho” ateu- o nada. Mas este detalhe não reflete um possível capricho cruel de uma divindade, que aliás nem mesmo os anjos sabem se realmente existe- Ah! Mas deixemos de lado essa questão metafísica.
O problema é acidental, e Júlio, por ser vítima de um...digamos, acaso cósmico, acaba se tornando o centro de um verdadeiro abalo nas esferas celestiais, fazendo com que os anjos, após muitas ponderações, decidam oferecer-lhe em vida, como forma de recompensa, todos os deleites que ele jamais terá após a morte- pois que irá desaparecer no vácuo. Dentre essas regalias do além, pode-se destacar: belas mulheres, atrizes de cinema, contato com artistas e poetas já falecido, êxtase com substâncias especiais, festas e jantares, desfiles apoteóticos, competições esportivas, etc. Aqui vale lembrar que o paraíso do romance é um lugar físico, sendo que “lá” as sensações são mais vivas que no plano terrestre- este detalhe me fez lembrar dos conceitos do místico Emanuel Swedenborg sobre céu e inferno- onde as pessoas, após a morte, continuam com a personalidade que tinham em vida; personalidade esta que será decisiva para a distribuição das “almas corpóreas” em suas respectivas moradas eternas; ou seja, esqueça aqui os usuais conceitos de pecado e redenção. Aliás, os tais prazeres celestiais, listados acima, são pra lá de mundanos...convenhamos. O único pecado no paraíso de A coisa-não-deus é o mau gosto (ou mau gosto e rudeza); e é neste detalhe do livro que se percebe a característica principal do “internauticamente” conhecido estilo de Alexandre. Ter desenvolvido ao máximo a própria personalidade (Oscar Wilde), eis aqui o requisito básico para adentrar no paraíso de A coisa-não-deus- Quaresmeiras Roxas. Mas Júlio, por seu lado, não tem o que poderíamos chamar de uma personalidade desenvolvida. Tímido e introspectivo, se revela incapaz de aproveitar os prazeres que os céus lhe oferecem de mãos beijadas- aqui eu me lembro da fábula da raposa e da cegonha- tudo que Julio poderia desejar está, teoricamente, ao seu alcance; porém nada pode ser feito dos obstáculos de suas muitas limitações mundanas: timidez, introspecção, ausência de charme. Julio tem até mesmo problemas para se comunicar, por causa de sua péssima dicção
No início do romance, o biógrafo de Julio deixa claro que não se importa com certos problemas ditos modernos, como a incomunicabilidade entre as pessoas (Kieslowski) , e é aqui que está um dos pontos (oh! tensões) dramáticas do livro. A pessoa escolhida para servir de elo entre Júlio e o paraíso –o biografo da história- não está muito interessada nas limitações e problemas de Júlio; e ainda que estivesse, tudo indica que nada poderia ser feito a respeito. A atenção do livro fica assim apoiada e dividida no contraponto entre o drama particular de Júlio (drama mais para os outros que para ele próprio) e as excentricidades do paraíso, das quais o biógrafo participa. No espaço narrativo também há dualidade: a oscilação entre trechos que se passam na terra (em São Paulo), descritos com aspereza, e trechos no paraíso, o lugar ideal para se viver uma “vida eterna refinada”, e por onde desfilam tipos e referências da cultura, que vão desde o erudito até o universo pop- e do pop até o popizinho.

O problema do romance (não estou dizendo que o livro é ruim) é que os pontos de vista do escritor (biógrafo) não saem de cena por um segundo sequer; até aí tudo bem, pois estamos falando de um escritor-personagem com um estilo bem característico e pessoal ; mas a questão é: por essa mesma presença constante do autor (lê-se: a mente do biógrafo), o leitor é praticamente lançado em uma encruzilhada emocional, e obrigado a se decidir se sente pena do Júlio (e se revolta contra os céus e seus charmosos habitantes), ou se pouco se importa com a sua incomum situação - e essa escolha emocional acaba sendo decisiva para inserir o leitor em uma das duas “facções” nascidas do “racha” no paraíso, que dividiu os personagens entre os que se apiedam de Júlio e os que sacodem os ombros para a questão; sendo que a predileção do autor fica nitidamente voltada para esses últimos. E, por essa mesma escolha emocional, o leitor também fica ciente de qual seria sua própria (fictícia) morada eterna; ou seja, se é ou não é merecedor do paraíso de A coisa-não-deus. O ponto problemático não é a posição do autor diante da questão central (que talvez também seja a mesma que a minha), mas sim a insistência em demonstrar essa posição- às vezes cansa. E todo o esplendor do paraíso acaba se projetando e dependendo do Julio para poder reluzir, quando o ideal talvez fosse o contrário: as maravilhas do paraíso reforçarem o extremo oposto- a miséria do Julio –deixando assim o leitor livre da estranha sensação de estar sendo emocionalmente manipulado pelo autor.
Em dado momento, uma questão é lançada no livro: a renúncia ao mundo, feita por Júlio, é ou não é uma atitude covarde? Não sei, creio que não. A apatia do personagem só demonstra que suas intenções e desejos se desenvolvem apenas em sua mente (ele se considerava um gênio e queria ter uma banda de rock).. E, se não há o real desejo, também não há razão para lutar; o que faz dessa renúncia algo sem importância. Talvez, no fundo, o Júlio ache tudo aquilo um saco –é uma hipótese.
Mas o romance está acima da média da literatura brasileira atual e da literatura juvenil em geral, destacando-se tanto pelo tema incomum, quanto pela linguagem leve e acessível. Tendo ainda momentos bem bonitos (a primeira visita ao paraíso, a morte de Júlio) e de humor (os rumores e relatos a respeito de Júlio, feitos por figuras conhecidas: Louise Brooks, Sá Carneiro, Evelyn Waugh, etc...ou Churchill levando uma vida de escritor policial no paraiso) fazem com que valha a pena ler.
Aliás, creio que essa minha análise ficou um tanto cerebral; e agora me ocorre outro contraponto do livro: a sisudez estudada versus o divertimento sem compromisso. A arte, para a maioria dos personagens deste romance, é como um parque de diversões, ou um ônibus roxo com histórias em quadrinhos dentro; e por alguma obra do acaso (ou maquinações literárias), os personagens que se revoltam com o destino de Júlio são os mesmos que buscam seriedade e sentido para tudo, e não despertam lá muita simpatia no autor. Nesse sentido, A coisa-não-deus está mais próximo de uma história em quadrinhos ou de um conto fantástico do que de um livro sobre pequenas e grandes tragédias humanas, batalhas do espírito e todas aquelas coisas já bem exploradas no passado.

Alexandre Soares Silva/ A coisa-não-deus
São Paulo: Beca, 2000

Thursday, June 02, 2005

Everybody Knows

And everybody knows that you're in trouble
Everybody knows what you've been through
From the bloody cross on top of Calvary
To the beach of Malibu...

Leonard Cohen

Vou-me embora pra Tangamandápio

Vou me embora pra Tangamandápio
Lá evito a fadiga
Lá tenho a vizinhança que quero
No pátio que escolherei

Jaiminho, o carteiro

My Definition

Mula-sem-cabeça é alguém que é capaz de enxergar elementos nocivos -tanto no aspécto cultural quanto no estético - em coisinhas singelas e banais, como o floclore.

Wednesday, June 01, 2005

Louco eu?

Às vezes sou acometido por ataques de surto seguidos de algum comportamento fora do comum, e isso já é natural. Mas tem horas que chego a me espantar.
Dia desses estava eu subindo uma rua qualquer do centro, quando vejo um garoto passando por mim e seguindo na mesma direção. De relance pude perceber que o rapaz era tímido- daquela espécie de timidez que deixa uma certa melancolia nos olhos. Ele estava com uma dessas camisas de banda de rock, com letra de música estampada nas costas- a que ele usava era uma dos Beattles, com a letra de Lucy in the Sky with Diamonds.
Pois bem, numa dessas eu, sem nada melhor pra fazer durante a solitária caminhada, resolvo cantarolar a dita cuja enquanto estalo os dedos. Como ele estava na minha frente, acompanhei a letra da música lendo a camisa.
O pobrezinho, não sabendo direito como agir (timidez é isso), resolve apertar os passos na tentativa de se desvencilhar de mim. E eu, que não sou bobo nem nada, também acelerei e continuei cantando e estalando os dedos.
A esdrúxula perseguição durou uns cinco minutos, só tendo fim no momento em que o garoto atravessa a rua e praticamente corre para se esconder de mim.

Saturday, May 28, 2005

Ironias do mundo

Neste domingo acontecerá a Parada gay na Paulista- na mesma avenida onde há menos de uma semana aconteceu a Marcha para Jesus.
Fato curioso: dentro da própria Marcha para Jesus havia uma ala evangélica gay.

Quando eu digo que o diabo é um corno...

Quem é você?

Aqui vai uma carta, que muito provavelmente você não lerá.

Sei que você é diferente de todas as pessoas que conosco conviviam naquele antro de hipocrisia. Onde, aliás, você continua vivendo e trabalhando. E de todas elas, você foi a única cuja mente eu não consegui desvendar.Dia desses eu disse para uma amiga: é impossível saber o que se passa na cabeça de algumas pessoas, e para esses casos você só pode levantar suposições do que sejam os tais motivos e as tais convicções. E de mil suposições que eu faça, todas podem estar erradas, sendo a verdade algo totalmente diferente do que eu tenha imaginado.
Pois bem, você é uma dessas. Para o bem, ou para o mal.
Veja, eu posso fazer uma breve análise psicológica de nossos colegas (ex no meu caso)

<<<<<, por exemplo: quer se convencer de que é feliz com a vida que leva. Acredita que está fazendo o que é certo para si e para os que o cercam. A insistência com que <<<<< busca se convencer de que sua vida é boa às vezes irrita os outros, que o consideram um almofadinha; um puxa-saco do chefinho. Sua ingenuidade se combina com o anseio por ser generoso e agradável, o que muitas vezes resulta em uma mistura do patético, bufo e atrapalhado. <<<<< é criticado pelas costas, porque todos se constrangem em fazê-lo pessoalmente. Seja por hipocrisia, seja por saberem que sua ingenuidade é capaz de destreinar mesmo os mais sarcásticos. Mas <<<<< é gente boa. Se alguém fizer <<<<< acreditar que ele é amigo, ele jamais deixa esse alguém na mão. Ah, o que estou dizendo? Corrigindo: se alguém fizer amizade com <<<<<, etc.

XXXXX é o tipo que transpira mediocridade. Trabalhar com XXXXX foi, para mim, uma experiência a um só tempo curiosa e desagradável. Insiste em maquiar sua própria incompetência com uma verve profissional. Crê que suas tentativas em parecer gentil surtem algum efeito. Mas, no meu caso, XXXXX sabia que seu teatrinho não funcionava. Daí o seu ódio por mim. XXXXX é do tipo que não chega a representar uma real ameaça. Estou certo de que basta um grito para que XXXX se envergonhe, tranpire, ou tente se defender gaguejando. XXXXX precisa de sexo, não tenho dúvidas.

WWWWW, por sua vez, é mais complexo e representa sim, por motivos óbvios, uma ameaça. WWWWW sabe do poder que sua figura tem. Os olhos vivos e grandes de WWWWW, o rosto como que transtornado e irado-eu diria diabólico. WWWWW conhece cada um, mas faz de conta que não conhece, porque sabe dos benefícios do teatro da surpresa. Acredita mais no diabo do que em deus, mais por suposta afinidade representativa que por fé. WWWWW não chega a amar o que faz, mas sabe que não é fácil não odiar.

E você? Se soubesse quantas análises eu tentei fazer sobre você. Todas foram infrutíferas porque as impressões eram fugidias. Você é como a iluminação solar aos olhos de um paisagista. Difícil captar, capturar os efeitos e compreender o mecanismo. Às vezes acho que em sua mente existem aqueles conceitos de bem e mal. Temo que você seja do tipo que coloca as coisas nesses termos, pois tenho aversão a pessoas que vivem fazendo esse maniqueísmo. Sim, porque eu creio que bem e mal está misturado dentro de cada um de nós. E em todos, em certos e variáveis momentos, pendendo mais para um lado que para o outro. E a idéia de que você possa ter me visto como sendo alguém "do mal" me causa uma sensação curiosa. Acho engraçado e ao mesmo tempo pequeno, mesquinho e tolo. Mas, se era assim, por que me amava, então? Por que a mistura de irritação e ternura escondida? Por que aquele ódio final? Quando já não havia absolutamente nenhum motivo. Talvez, para você, eu também seja um mistério insondável, e eu já pensei bastante nisso.

A verdade é que foi melhor assim: cada um para seu lado. Talvez, se demorasse mais tempo, finalmente teríamos nos descoberto, e nesse momento já não haveria mais graça, nem possibilidades.

Comedown

BUSH
Love and hate, get it wrong
She cut me right back down to size
Sleep the day, let it fade
Who was there to take your place
No one knows, never will
Mostly me, but mostly you
What do you say, do you do
When it all comes down

Cause I don't want to come back
Down from this cloud
It's taken me all this time to find out

Cause I don't want to come back
Down from this cloud
It's taken me all this time...

There is no blame only shame
When you beg you just complain
The more I come more i try
All police are paranoid
So am I - so's the future
So are you - be a creature
What do you say do you do when it all comes down

Wednesday, May 25, 2005

Diagnóstico

A obssessiva busca pela catarse é a principal causa do tédio na arte.
As outras são: excesso de subjetividade e muita vontade de brilhar em meio a pouco o que dizer.

Off topic- A cultura é um deus pagão. E por mais que se fuja do (oh!) relativismo, nada impede que demônios invadam o corpo de quem a cultua.

O corpo é um só, sozinho...

Do porquê de não se poder viver só e da necessidade de companhia.

As pessoas entram nas nossas vidas, na maioria das vezes, sem nosso consentimento. E o grosso da tragédia humana consiste nessa fatalidade absurda. A outra consiste no fato de que precisamos comer pra viver.

Precisamos das pessoas porque a sociedade é composta por grupos de pessoas. E sem isso fica relativamente difícil de viver- no sentido físico e corpóreo.
Fosse possível selecionar com precisão as pessoas que farão parte de nossa vida, ao longo da tragetória, e o problema persistiria; porque estar só sempre há de parecer o modo mais acertado e suportável de viver. Mesmo que na teoria ainda seja difícil acertar os pontos, arrumar a trouxa e partir para um mocambo, ou uma ilha deserta.
Entendo tudo que Aristóteles escreveu, menos aquela parte que diz que um homem que vive só é um tolo ou um deus. Minto, eu entendo a parte do deus; mas unicamente por causa da suposta capacidade de, estando só, essa pessoa se manter viva fisicamente-- o que não deixa de ter lá o seu grau de proesa divina.

Saco de opiniões

Católicos deveriam manter a devida distância dos assuntos referentes à cultura, sobretudo da chamada cultura popular.
Para zelo do bom senso e da coerência.

Monday, May 23, 2005

Morte ao latim!

Diz assim o meu impulso anarquista..

Três coisas

Três coisas a dizer sobre o romance Under the Volcano, de Malcolm Lowry:
É muito triste; é de partir o coração; e é muito bom, boníssimo!

Jonh Huston esperou quarenta anos para adaptá-lo para o cinema. Talvez eu precise de mais que quarenta anos para escrever sobre o livro. É muito difícil falar de algo de que realmente gostamos.
Talvez eu jogue aqui no blog o esboço de algum tipo de resenha-fragmento. Só que mais tarde, bem mais tarde.