Saturday, May 28, 2005

Ironias do mundo

Neste domingo acontecerá a Parada gay na Paulista- na mesma avenida onde há menos de uma semana aconteceu a Marcha para Jesus.
Fato curioso: dentro da própria Marcha para Jesus havia uma ala evangélica gay.

Quando eu digo que o diabo é um corno...

Quem é você?

Aqui vai uma carta, que muito provavelmente você não lerá.

Sei que você é diferente de todas as pessoas que conosco conviviam naquele antro de hipocrisia. Onde, aliás, você continua vivendo e trabalhando. E de todas elas, você foi a única cuja mente eu não consegui desvendar.Dia desses eu disse para uma amiga: é impossível saber o que se passa na cabeça de algumas pessoas, e para esses casos você só pode levantar suposições do que sejam os tais motivos e as tais convicções. E de mil suposições que eu faça, todas podem estar erradas, sendo a verdade algo totalmente diferente do que eu tenha imaginado.
Pois bem, você é uma dessas. Para o bem, ou para o mal.
Veja, eu posso fazer uma breve análise psicológica de nossos colegas (ex no meu caso)

<<<<<, por exemplo: quer se convencer de que é feliz com a vida que leva. Acredita que está fazendo o que é certo para si e para os que o cercam. A insistência com que <<<<< busca se convencer de que sua vida é boa às vezes irrita os outros, que o consideram um almofadinha; um puxa-saco do chefinho. Sua ingenuidade se combina com o anseio por ser generoso e agradável, o que muitas vezes resulta em uma mistura do patético, bufo e atrapalhado. <<<<< é criticado pelas costas, porque todos se constrangem em fazê-lo pessoalmente. Seja por hipocrisia, seja por saberem que sua ingenuidade é capaz de destreinar mesmo os mais sarcásticos. Mas <<<<< é gente boa. Se alguém fizer <<<<< acreditar que ele é amigo, ele jamais deixa esse alguém na mão. Ah, o que estou dizendo? Corrigindo: se alguém fizer amizade com <<<<<, etc.

XXXXX é o tipo que transpira mediocridade. Trabalhar com XXXXX foi, para mim, uma experiência a um só tempo curiosa e desagradável. Insiste em maquiar sua própria incompetência com uma verve profissional. Crê que suas tentativas em parecer gentil surtem algum efeito. Mas, no meu caso, XXXXX sabia que seu teatrinho não funcionava. Daí o seu ódio por mim. XXXXX é do tipo que não chega a representar uma real ameaça. Estou certo de que basta um grito para que XXXX se envergonhe, tranpire, ou tente se defender gaguejando. XXXXX precisa de sexo, não tenho dúvidas.

WWWWW, por sua vez, é mais complexo e representa sim, por motivos óbvios, uma ameaça. WWWWW sabe do poder que sua figura tem. Os olhos vivos e grandes de WWWWW, o rosto como que transtornado e irado-eu diria diabólico. WWWWW conhece cada um, mas faz de conta que não conhece, porque sabe dos benefícios do teatro da surpresa. Acredita mais no diabo do que em deus, mais por suposta afinidade representativa que por fé. WWWWW não chega a amar o que faz, mas sabe que não é fácil não odiar.

E você? Se soubesse quantas análises eu tentei fazer sobre você. Todas foram infrutíferas porque as impressões eram fugidias. Você é como a iluminação solar aos olhos de um paisagista. Difícil captar, capturar os efeitos e compreender o mecanismo. Às vezes acho que em sua mente existem aqueles conceitos de bem e mal. Temo que você seja do tipo que coloca as coisas nesses termos, pois tenho aversão a pessoas que vivem fazendo esse maniqueísmo. Sim, porque eu creio que bem e mal está misturado dentro de cada um de nós. E em todos, em certos e variáveis momentos, pendendo mais para um lado que para o outro. E a idéia de que você possa ter me visto como sendo alguém "do mal" me causa uma sensação curiosa. Acho engraçado e ao mesmo tempo pequeno, mesquinho e tolo. Mas, se era assim, por que me amava, então? Por que a mistura de irritação e ternura escondida? Por que aquele ódio final? Quando já não havia absolutamente nenhum motivo. Talvez, para você, eu também seja um mistério insondável, e eu já pensei bastante nisso.

A verdade é que foi melhor assim: cada um para seu lado. Talvez, se demorasse mais tempo, finalmente teríamos nos descoberto, e nesse momento já não haveria mais graça, nem possibilidades.

Comedown

BUSH
Love and hate, get it wrong
She cut me right back down to size
Sleep the day, let it fade
Who was there to take your place
No one knows, never will
Mostly me, but mostly you
What do you say, do you do
When it all comes down

Cause I don't want to come back
Down from this cloud
It's taken me all this time to find out

Cause I don't want to come back
Down from this cloud
It's taken me all this time...

There is no blame only shame
When you beg you just complain
The more I come more i try
All police are paranoid
So am I - so's the future
So are you - be a creature
What do you say do you do when it all comes down

Wednesday, May 25, 2005

Diagnóstico

A obssessiva busca pela catarse é a principal causa do tédio na arte.
As outras são: excesso de subjetividade e muita vontade de brilhar em meio a pouco o que dizer.

Off topic- A cultura é um deus pagão. E por mais que se fuja do (oh!) relativismo, nada impede que demônios invadam o corpo de quem a cultua.

O corpo é um só, sozinho...

Do porquê de não se poder viver só e da necessidade de companhia.

As pessoas entram nas nossas vidas, na maioria das vezes, sem nosso consentimento. E o grosso da tragédia humana consiste nessa fatalidade absurda. A outra consiste no fato de que precisamos comer pra viver.

Precisamos das pessoas porque a sociedade é composta por grupos de pessoas. E sem isso fica relativamente difícil de viver- no sentido físico e corpóreo.
Fosse possível selecionar com precisão as pessoas que farão parte de nossa vida, ao longo da tragetória, e o problema persistiria; porque estar só sempre há de parecer o modo mais acertado e suportável de viver. Mesmo que na teoria ainda seja difícil acertar os pontos, arrumar a trouxa e partir para um mocambo, ou uma ilha deserta.
Entendo tudo que Aristóteles escreveu, menos aquela parte que diz que um homem que vive só é um tolo ou um deus. Minto, eu entendo a parte do deus; mas unicamente por causa da suposta capacidade de, estando só, essa pessoa se manter viva fisicamente-- o que não deixa de ter lá o seu grau de proesa divina.

Saco de opiniões

Católicos deveriam manter a devida distância dos assuntos referentes à cultura, sobretudo da chamada cultura popular.
Para zelo do bom senso e da coerência.

Monday, May 23, 2005

Morte ao latim!

Diz assim o meu impulso anarquista..

Três coisas

Três coisas a dizer sobre o romance Under the Volcano, de Malcolm Lowry:
É muito triste; é de partir o coração; e é muito bom, boníssimo!

Jonh Huston esperou quarenta anos para adaptá-lo para o cinema. Talvez eu precise de mais que quarenta anos para escrever sobre o livro. É muito difícil falar de algo de que realmente gostamos.
Talvez eu jogue aqui no blog o esboço de algum tipo de resenha-fragmento. Só que mais tarde, bem mais tarde.

Sunday, May 22, 2005

Here it is

May everyone live,
And may everyone die.
Hello, my love,
And, my love, Goodbye.

Leonard Cohen

MemóriasII

Mas e não é que agora viciei nessas historinhas de memória...

A que segue, mais uma vez, é protagonizada pelos Gêmeos:

Estou cada vez mais convencido de que todas as crianças do mundo carregam um déspota dentro de si, seja ele declarado ou contido; e não há limites para a crueldade infantil.
Quando eu era criança, entre a molecada, havia uma série de códigos rígidos a serem seguidos, e ai de quem burlasse esses códigos; a penalidade era severa, rígida, intolerante.
Era mais ou menos assim: tínhamos uma listinha de coisas que por nós eram execradas ao extremo, pois as considerávamos vergonhosas, infames e imbecis. Uma delas era assistir a novela Carrossel - a febre de então. Não havia perdão para este pecado, e de todas as coisas vergonhosas, essa, sem dúvidas, liderava largamente o rol. O ódio à novelinha era tanto, que até chupar o chiclete (sim, lançaram um chiclete da novela) era crime. Cantarolar a música tema, então, era motivo pra levar vigorosos chutes na bunda; isso quando o shorte do infeliz não era arreado em público. Para vocês terem uma idéia, ouvir o disco da Mara-maravilha era um pecado venial perto do pecadão que era assistir Carrossel. Para nós, não havia coisa mais sórdida, infame, biltre, que se render aos apelos pueris da novelinha mexicana. Era mais vergonhoso que deixar escapar um peido em sala de aula. Mais infame que ter uma lancheirinha dos Ursinhos carinhosos.
Mas e aí? O que acontecia com aquele que fosse pêgo assistindo Carrossel?

O instrumento da punição era um potinho de óleo de fígado de bacalhau. Nós peidávamos nesse potinho (sim, peidávamos!) e aprisionávamos alí os gazes- era o famoso potinho da bufa- preparado exclusivamente para punir as infâmias. Eu avisei que a pena era severa, então preparem-se para o que segue:
Assistir Carrossel --> pena máxima--> punição: cheirar o potinho da bufa durante 15 minutos; em meio à chacota dos outros.
Nem preciso dizer que um de nós foi pego assistindo à novela. Foi um dos Gêmeos (desta vez eu lembro claramente qual dos dois). Vou preservar o nome, vamos chamá-lo de Gêmeo1.
O coitadinho ficou verde depois de cumprida a pena. E deve ter assistido a novela mais por excitação diante do proibido do que por gosto. Eu mesmo me via tentado a ver Carrossel, e via, por conta da proibição. Por que será que o proibido é tão bom?

Bem, no dia seguinte, a notícia: Gêmeo1 estava doente, com febre alta e diarréia.
Nos sentimos tão culpados, que jogamos o potinho da bufa no mar.

Embarque neste carrossel, onde o mundo faz de conta, terra é quase céu...

Tuesday, May 17, 2005

Memórias

Sempre que vou em "Edit", quando quero corrigir alguma coisa dos meus textos aqui no blog, eu me lembro da Edite, a gordinha que trabalhou comigo anos atrás.
Grande Edite.

Era a cara da Eliana de Lima, a Edite.
Belêlê, tenho de pedir perdão...Belêlêlê

Monday, May 16, 2005

Gênio, mórbida obsessão

Não entendo de onde vem essa predileção que as pessoas têm por gênios, e a consequente busca pela genialidade. Faltou mais um desdobramento para essa psicose compulsiva? -- Ah! os adjetivos, pois sim: é gênio pra lá, é genial pra cá, é genioso pra colá, etc.(para definir qualquer coisa que drible, ainda que por cima, a poderosa força da mediocridade)
Duas alternativas para explicar este fenômeno me parecem razoáveis: 1) Vaidade, vaidade, tudo vaidade. Sim, pelo óbvio, porque os gênios sempre serão lembrados, enquanto os demais mergulharão em um infinito e inexorável esquecimento. E sempre haverá a "interessante" cartilha para pretensos gênios, daí a busca obsesssiva; 2) Masoquismo- porque gênios são pessoas sofridas, não raro atormentadas por visões ou doenças dos nervos. Sem contar com a vida social, que é sempre um desastre completo; a glorificação tardia (póstuma, bem póstuma)- marca régis de qualquer gênio que se preze.
No mais, não vejo outra explicação convincente para que alguém se perturbe tanto com os assuntos da genialidade. Ou se adiante em querer saber o que faz de um gênio um gênio. Caso exista outra explicação, faz favor de me avisar.

Sunday, May 15, 2005

Conheçam Lotte Reiniger



"When I was at school, all the children used to do paper cut-outs, silhouettes, and I loved it. Later I got the theatre bug and put on shows. When other children were out playing, I was 'animating' my silhouettes. I'd make them perform Snow White, for example. When I was older, my parents were so pleased to see me sitting at home cutting out silhouettes as it was a peaceful hobby and it didn't take up much room. I built my own shadow puppet theatre"

Lotte Reiniger


Friday, May 13, 2005

"...man, proud man, Dress'd in a little brief authority, Most ignorant of what he's most assur'd-- His glassy essence--like an angry ape Plays such fantastic tricks before high heaven As makes the angels weep..."

Concy Maduro

Wednesday, May 11, 2005

Don't look back

FANTASMAS DOS TEXTOS PASSADOS

Monday, May 09, 2005

Espírito crítico

Pessoas que só falam do que não gostam estão possuidas pelo espírito crítico. Tenho aqui em casa uma harpa cristã com cânticos para espantá-lo. Está lá: Cânticos para Espírito crítico; Cânticos para enfermidades do corpo, etc...

Tipo Zero

Você é um tipo que não tem tipo
Com todo tipo você se parece
E sendo um tipo que assimila tanto tipo
Passou a ser um tipo que ninguém esquece
O tipo zero não tem tipo
_______***________________
Quando você penetra no salão
E se mistura com a multidão
Esse seu tipo é logo observado
E admirado todo mundo fica
E o seu tipo não se classifica
E você passa a ser um tipo desclassificado

Noel Rosa

Sunday, May 08, 2005

2037 - A volta da Inquisição


Isso antes da invenção da fogueira elétrica, naturalmente.

Estava louca

Não havia dúvidas: ela enlouquecera. E dentre os murmúrios que se ouvia, dos conhecidos, pelos corredores, o que mais ganhava a atenção era: " O vocabulário dela! Ela tem um vocabulário muito, muito diversificado!".

À sombra do vulcão

Malcolm Lowry é um escritor difícil; ou pelo menos não muito convencional. A verdade é que não pude ser fluente na leitura das primeiras páginas de À sombra do vulcão, seu romance mais conhecido. Não foi tanto pela narrativa em si; o problema são alguns "obstáculos" impostos pela própria história. Mas não há o menor motivo para se aborrecer--ou considerar a escrita de Lowry como sendo o resultado de um capricho besta e estilizado, típico de imitadores e idólatras da forma fragmentada. Sobre os obstáculos, que na verdade é apenas um: referências a lugares e eventos na apresentação do espaço -a história se passa no México, em meio à famosa Festa dos Mortos.
A imaginação teve que ser nervosa para poder preencher muitas dessas lacunas descritivas--e dos flashbacks. Mas isso é apenas o início; você "pega as manhas" por volta do terceiro capítulo, que é quando a ação de cada personagem se firma, mais ou menos como em uma peça de teatro. Perceber os atalhos e sutilezas do labirínto da mente do Cônsul -ele está constantemente embriagado (fica até fácil) o resto são flashbacks e confusão poética. Mas as descrições ainda são um tanto espinhosas. Não é de se espantar que o Jonh Huston tenha aguardado quarenta anos para adapar À Sombra do Vulcão para o cinema--aliás, a biografia do Jonh Huston também é um baita de um romance; para ser lido de uma vez só .

Bom livro. Intrigante, fascinante. Estou gostando muito da Yvonne. Quando ela entrou na história, tive a desagradável sensação de que lá vinha mais uma mulher chorosa, que faria a narrativa descambar para o melodrama. (Apesar da temática, tudo é muito sóbrio e vivaz; ao menos até então). E a literatura está empesteada dessas mulheres chorosas. Elas ficam muito bem em livros de narrativa rápida e linguagem fluente e curta, mas aqui acabaria acarretando uma tragédia (que não tem nada com o gênero) --por isso o meu medo. Mas qual o quê? A muié chegou; admirou os vulcões; fez troça; falou sobre guerra; cuidou do jardim do Cônsul; e ainda montou a cavalo com o Hugh- porreta, não? Espero que continue assim. O resto também está excelente. Volto para a leitura...

Pela primeira vez, com exclusividade:

A CASA DO CARALHO

Tuesday, May 03, 2005

Desmond Dekker

ISRAELITES

Get up in the morning, slaving for bread, sir,
So that every mouth can be fed.
Poor me, the Israelite. Aah.

My wife and my kids, they are packed up and leave me.
Darling, she said, I was yours to be seen.
Poor me, the Israelite. Aah.

Shirt them a-tear up, trousers are gone.
I don't want to end up like Bonnie and Clyde.
Poor me, the Israelite. Aah.

After a storm there must be a calm.
They catch me in the farm. You sound the alarm.
Poor me, the Israelite. Aah.

Poor me, the Israelite.
I wonder who I'm working for.
Poor me, Israelite,
I look a-down and out, sir.

Impasse

Próximo romance a ser lido:
"O pecado de Liza"-W. Somerset Maugham (em breve, por minha causa, já não haverá mais nada deste autor nos sebos)

ou

"O Encontro Marcado"- Fernando Sabino.

Terei de fazer Une-dune-tê?

Monday, May 02, 2005

Me engana que eu gosto

O que muitas pessoas ditas e consideradas inteligentes têm é nada mais que a capacidade de armazenar referências (muitas vezes ligadas à cultura inútil) no coco. E eu não dou um teco pra isso.
E evitar assuntos que envolvem coisas importantes parece ser uma das regras para escapar do ridículo ou do embaraço. Mas o que eu acho; o que eu realmente acho é que essas pessoas tiveram tempo demais para o lazer ; junta-se a isso uma boa memória e o fato de serem craques nas associações rasteiras--nada mais.
A questão é que eu não tenho saco para babar na coleção de tampinhas de seus ninguém. E nada vai mudar a minha perfeita definição do que seja uma inteligência mediana. Ou uma burrice disfarçada.