Saturday, December 30, 2006

Intercessão

Então tá, amar o que é fácil de se amar não é nenhuma virtude. Para que seja virtude o amor tem que se voltar para o difícil.
Eu entendo tudo isso, mas nada vai mudar o fato de que certas pessoas tornam essa tarefa tão difícil, que temos que apelar para a intercessão divina. Mas o milagre, neste específico caso, não consiste no surgimento do amor em meio a um terreno inóspito; tampouco é esse o apelo.
O milagre aqui, meus caros, seria o vôo de um raio certeiro e fulminante em direção à cabeça da pessoa malamada que, ainda chamejando, cai dura feito um tição.

Jogo de sombras

Na vida é como na arte: através do errado se tem uma imprecisa noção de como deve ser o certo.

A morte da beleza

- E aí meu, beleza?
- Beleza!
- Beleza, belezinha mermo?
- Ô!
- Então tá belê!
- Falow!

Wednesday, September 20, 2006

Para esquecer um grande amor

Para esquecer um grande amor, preciso é muita concentração e um tantinho de cinismo, unido a gargalhadas, sarcasmo e muito riso - para esquecer um grande amor.

Para esquecer um grande amor, mister é ser homem que não dá ponto sem nó, daqueles que caem na orgia sem dó, e sem arrependimentos.

Para esquecer um grande amor, dê risadas às escondidas do bufão que sagra-se cavalheiro, que não sabe que o bom da vida mesmo é ganhar muito dinheiro - para esquecer do grande amor.

Para esquecer um grande amor, junte-se ao "velho amigo" e assim reunidos, você, ele e a garrafa de pinga, recorde que já existiram tantos outros grandes amores, e no entanto estão todos hoje submersos em um profundo e sombrio mar do esquecimento. Junte-se também àquele que não está apaixonado; ele sempre trará conselhos sábios, para esquecer do grande amor.

Para esquecer um grande amor, é preciso ser um sujeito com muito peito. é preciso olhar a(o) sua bem amada(o) como uma ave passageira, como um rosto que em breve não mais será lembrado, e tampouco desejado.

Conta ponto fazer coisinhas: ovinhos mexidos, torresminhos, batatinhas vinagrete, bifinhos refolgados, mas atenção: faça SOMENTE pra você! Afinal, seu corpo vive em uma eterna fase de crescimento. E só adolescentes bobalhões precisam esquecer de um grande amor. E é exatamente nessa hora, e somente nessa hora da gula, que você assume que não passa de um.

É preciso saber tomar não só uísque, mas também conhaque, celveza, vodka, pinga pura e pinga com limão. De preferência misture todas elas e dane-se a brincar de disquinhos voadores com seus malditos CDs dor de cotovelo.

Mas se tudo isso não bastar, dê um tiro no seu peito. Aí eu quero só ver se assim você não esquece do grande amor.

Sunday, August 20, 2006

Modernidade

Minha mãe quer que eu compre uma TV para o meu quarto. Todas as mães do mundo regozijariam ao saber que seus filhos não dão a menor bola para a TV; mas a minha é diferente.
O meu medo é que por fim ela não só me convença a comprar o aparelho, como também me force a ver os programas.

Wednesday, August 02, 2006

Filosofia de quinta adiantada para quarta OU pensamentos avulsos

Passando a vista rapidamente pelos meus últimos posts, percebo que ando escrevendo bastante sobre literatura. Demais até para meu gosto, que é complacente. A parte boa disso é que no fim das contas eu sei que o faço sem nenhum risco de pretensão. Graças ao bom pai celestial, diga-se. Mas mesmo assim, uma coisa fica a me incomodar: sinto que estou meio que me apegando demais à literatura. E eu nasci para não me apegar a nada.

Eu só não acabo com este blog porque já o tenho faz mais de um ano - tempo suficiente para criar o hábito de escrever minhas groselhas aqui, ainda que esporadicamente. Eu bem que poderia fazer o teste e apagar, só para ver se eu vou sentir falta. Mas eu me conheço e sei que se fizer isso, em menos de um mês eu volto com outro. E pior: vou sentir saudades deste.

Sinais de cinismo: observar uma pessoa feliz da vida e imediatamente imaginar que alguém, em alguma parte do mundo, e no mesmo instante, está sendo feita de trouxa, para o bem da lei da compensação.

Sentimental é aquele que não conseguiu alcançar seu objeto de desejo e acha que pode ferir o mundo com sua ladainha adocicada. O problema é que na maioria das vezes ele consegue, já que sempre vai encontrar um idiota querendo ser o objeto-de-desejo-substituto. Então o idiota leva uma cacetada-coice do sentimental, e o ciclo interminável recomeça.


O problema das pessoas é que elas não conseguem se livrar das coisas que lhes fazem mal (masoquismo?). Um outro problema é que elas sempre gostam de uma coisa só.

Tuesday, July 25, 2006

E o povo constrói ídolos, e faz estátuas...e Deus não gosta

Estava eu, muito tranqüilamente, a folhear livros dentro de um desses sebos da vida, quando um corvo se revelou no topo da estante - tinha a aparência de um demônio cheio de pó. Ele não disse "nunca mais", foi breve e, além do quê, devia ter coisas mais importantes para fazer. E era um corvo tão severo que nem quis saber de muita prosopopéia. Fato é que a nossa comunicação se deu por uma transmissão de pensamentos. E foi assim que ele lançou a questão:
"Pensa rápido! Pensa rápido! Cite três autores brasileiros superestimados pelo público e crítica. Pense naqueles que merecem uma boa dose de esquecimento e poeira..."

Não deixei o corvo concluir. Devolvi a resposta instantâneamente:

- Clarice Lispector;
- Mário de Andrade;
- Luís Fernando Veríssimo


Nos pertences de uma famosa escritora dessas terras foi encontrada uma carta, posteriormente desamassada, redigida com irregulares letras de forma...mas com tinta vigorosa.

"Querida Clarice, preciso muitu lhi dizer uma coisa e vô falar com as profundezas do córação...não sou escritora, tão pouco sei escrever direito, mas o dever moral me chama. Aceite este consselhu di amiga, di mulher do povo e trabalhadeira..achu que você vai me entender, você fala muito de coisas de mulher. Eu não te cunheço, você não me cunhece, mas pensa na franqueza e no alerta de alguém qui não pode se calar dianti da verdade olcuta das coisa.

Clarice Lispequitor, por amor a Deus Pai, aceite Jesus no coração!! Porque só ele e mais ninguém vai livrar você desses fuxicos de consciença e vai expulsar as epifainhas."

ASS: Terezinha da Conceição

Rio de Janeiro, março de 1970

Thursday, June 22, 2006

The Faith

Musicas são engraçadas. Assim como os aromas, elas marcam fases das nossas vidas. Um livro que você leu aos 15 anos terá uma outra "versão" aos 25; já a música e o perfume, não. Ao invés de fazerem você refletir sobre o passado, eles transportam seu espírito para trás no tempo, e você, mesmo sem querer, carrega para sempre aquela primeira impressão.
Tenho total certeza de que, não importa o tempo que passar, no futuro, quando eu ouvir "The Faith", do Leonard Cohen, viajarei de volta para este ano de 2006, e para essa atua fase.

The Faith
(Leonard Cohen)

The sea so deep and blind
The sun, the wild regret
The club, the wheel, the mind,
O love, aren't you tired yet?

The blood, the soil, the faith
These words you can't forget
Your vow, your holy place
O love, aren't you tired yet?

A cross on every hill
A star, a minaret
So many graves to fill
O love, aren't you tired yet?

The sea so deep and blind
Where still the sun must set
And time itself unwind
O love, aren't you tired yet?

And time itself unwind

O love, aren't you tired yet?

Sunday, May 21, 2006

O Colecionador

Na contracapa de uma edição de O Colecionador (John Fowles) - Tradução de Fernando de Castro Ferro, São Paulo: Abril Cultural, 1980 - é dito que os tipos são caracterizados pela linguagem que usam. Sendo assim, a primeira parte do livro, narrada por Clegg (Calibã), é pautada pela gritante mediocridadede de seu caráter, enquanto que a segunda metade, o diário de Miranda, teria um estilo ágil, nervoso e cheio de vitalidade.

Eu não sei se a culpa é do tradutor mas, na minha honesta opinião, o que acontece é bem o contrário disso. Enquanto o livro é narrado por Clegg existe um encanto de mistério, e as coisas vão aos poucos se definindo no desenrolar da ação, com suspense e até humor.
Não nego que a personalidade de Miranda seja superior a de Clegg, mas devo dizer que a segunda metade, o diário, é muito chata. Fica um tal de G.P isso, G.P aquilo... Tive ganas de parar com a leitura. Na primeira parte do livro Miranda era inteligente e misteriosa; já na segunda, quando mergulhamos no seu íntimo diário, continuamos maravilhados com a sua singular inteligência, mas o que antes era mistério e graça, agora desaparece no meio de uma chatice, de uma histeria...A histeria eu perdoo, já que ela é a raptada da história. Mas para chatice não há perdão...no no!

Não sei qual era o escritor que dizia que as pessoas que não conhecemos bem são maravilhosas, ou algo assim. Seja lá quem foi que disse isso, eu tô com ele.

Thursday, May 18, 2006

Carta aberta para Concy Maduro

Querida Concy, confesso que de início cogitei a possibilidade de deixar tudo como está: você pensa que eu sou quem eu não sou, enquanto de cá eu calo e consinto em ser quem você pensa que eu sou, embora eu não seja.
Caso você seja quem eu penso que você é, e ainda que não seja, fico lisonjeado com sua ilustre visita. Volte sempre, e bem vinda seja.
Mas pense em mim como alguém que você não sabe quem é, pois que tenho o dever moral de informá-la que eu não sou quem você pensa que eu sou, muito embora eu tenha quase total certeza de saber quem você é.

Afinal, um de nós dois apareceu na TV ;)

Wednesday, May 17, 2006

Matei a charada!

Estava aqui pensando, muito sisudo e compenetrado, a respeito das falhas do teatro contemporâneo; vejá só que coisa... digo, pensava mais precisamente nesses textos escritos de uns trinta anos pra cá, e no porquê de sempre haver neles uma sobrecarga de cérebro em contraponto com uma lamentável escassez de emoção e drama. Falta do que dizer, i suppose...
O fato é que depois de dar muitas voltas e nós na cabeça cheguei à conclusão mais óbvia de todas: o que falta ao teatro moderno é tão somente a boa e velha simplicidade. O dramaturgo atual quer reinventar a roda, e tudo o que consegue fazer é criar um emaranhado de "elementos" modernosos, sempre tendo em vista o espetáculo; ou seja, tudo no sentido de literalmente montar a maldita peça. E assim nascem aquelas encenações cheias de parafernalhas, fios, cabos, figurinos de lata, isso plugando naquilo, etc. Você percebe que há uma vontade desesperada de dizer algo, e o mais inacreditável é que, em alguns casos, realmente há algo a ser dito; mas qual o quê? Fica tudo tão sufocado pelas (oh!) idéias mirabolantes, que pra você entender a tal da mensagem só mesmo procurando com muita paciência nas entrelinhas. E haja paciência, diga-se...

Por que não apredem com os antigos? Deos do céu, o teatro grego é completo. É simples, direto e (morram de inveja, mudernos) é belo. A sua cabeça não dói de tanto fazer força para entender o que aquelas pessoas tão distantes no tempo sentem e pensam durante o desenrolar da ação.
O problema do teatro moderno é que a parte complexa do texto vem na frente, para imprimir um ar inteligente, enquanto que a outra parte, que deveria ser simples, fica soterrada debaixo das grandiosas "idéias". O teatro antigo é superior porque reverte (para os olhos modernos) a ordem dessa situação.

Ah, até aqui escondi um fato: quando falo de teatro moderno estou me referindo à dramatugia brasileira, é claro. Bem feito pra mim, que insisto em chafurdar nas peças da térrinha.

Sunday, April 30, 2006

Nada pode ser mais mesquinho que:

Uma competição para definir quem é mais gentil.

Wednesday, March 08, 2006

...

O discurso é a coisa mais enjoativa que há. Assim como aqueles alimentos açucarados que atiçam a vontade pelos sentidos, pra só então trocarem por repulsa completa o prazer que se sente no início; o discurso tem sobre as pessoas o efeito que uma pedra de açúcar tem sobre as formigas: elas se esbaldam até morrerem - numa espécie de sarjeta - por cima do doce ainda exposto. É quando as tão virtuosas formigas se mostram desprezíveis seres ceifados por um vício momentâneo.
E como são doces as palavras de um discurso novo que nos agrada; e quanto mais agradável elas forem, maior será o enjôo sentido no futuro, quando da perda da novidade.
Nem mesmo a forma salva o discurso.

Sunday, March 05, 2006

Madame Bovary

Terminei de ler o livro sentindo uma grande pena de todos aqueles personagens, sem excessão. Um imenso dó de todos eles, por todas aquelas situações trágicas e embaraçosas, aquelas vidas achatadas pela mediocridade, pela repetição, pelo tédio ...Avancei para as últimas páginas com o coração vindo à boca e o aperto maior foi pelo pobre Carlos, que se despedaçou aos poucos até sucumbir diante da morte - morreu de tristeza, o coitado. Mas também foi angustiante toda a situação que precedeu o suicídio, e a Ema, pedecendo as dores do envenenamento, também acabou sendo dígna de profunda pena. Enfim, senti pena dela, do Carlos, da velha e sisuda mãe do Carlos, do Sr. Rouault, do cego maltrapilho, do Justino; até do farmacêutico eu tive pena, e olha que ele nem precisou de um final infeliz, muito pelo contrário.

Vi algumas muitas semelhanças entre esse romance e o Ana Karenina, do Tolstói. Porém, a diferença, a grande diferença é que neste último foi possível perceber um sol, ainda que tímido, brilhando na virada da última página. Já no livro do Flaubert...

Sunday, February 19, 2006

O medo devora a alma

Tem vezes em que perco totalmente o interesse pela humanidade. Não falo de fé, que é outra coisa, mas de interesse mesmo, de vontade de vivenciar coisas em conjunto, trocar idéias, etc. É uma ausência total de estímulos, uma tamanha nulidade diante do próximo ou de qualquer coisa que o represente, que às vezes tenho a sensação de que o espelho quebrou, e então não faço mais parte da vida cotidiana - é como se eu flutuasse em uma outra dimensão, onde o único foco de interesse se apresenta sob a forma de uma ilha obscura e silenciosa, na qual eu posso, sem culpa, me entregar à mais completa solidão.
O resultado disso é um estado de coisas cuja permanência varia entre horas, dias, semanas, às vezes até meses; tendo a mais longa ultrapassado um ano...
Não é desprezo, ódio, rancor, inaptidão social...nada disso; e antes fosse, já que essas coisas, de certa forma, nos lançam para o campo (de batalha) da ação, no qual toda a encenação das relações humanas ganha corpo e forma. O que de fato acontece, pelo contrário, é que essas fases me tomam de assalto, sem aviso prévio e sem razão aparente; quando surge, simplesmente se instala e alí permanece, sem que eu possa fazer nada. Então, tudo o que em outras ocasiões me despertariam ódio, compaixão, ternura, agora se convertem em um infinito nada. Não é uma apatia no sentido comum, já que meu interesse por muitas outras coisas permanece intacto; é uma apatia única e exclusivamente pelas pessoas.

Tem momentos em que a coisa fica tão braba, que uma pontadinha de ódio por alguém já me deixa feliz. É como se eu avistasse ao longe um farol sinalizando o meu retorno à sociedade a qual, querendo ou não, pertenço; é quando eu já posso me acalmar e contar com o fim da turbulância de mais uma fase de desinteresse pelas pessoas.
Já cheguei à conclusão de que esse meu desajuste poderia me trazer uma profunda paz de espírito; mas isso, claro, somente aconteceria caso eu pudesse vivenciar o desajuste sozinho, completamente isolado dos demais, e é aqui onde aparece o problema: preciso da sociedade; preciso trabalhar, comer, me vestir, e conciliar essas coisas com a minha natureza é o mesmo que se equilibrar simultaneamente entre dois extremos. Impossível.

Tuesday, January 17, 2006

Ah, quer saber de uma?

O meu filme, que eu não vi, era bem melhor. E ponto.

Competir é melhor que sonhar

Tento ao máximo fugir da mídia, mas parece que ela me persegue. Evito ligar a tv, ler os jornais e, conseqüentemente, conversar com estranhos; mas não adianta.
Pouco me ralho para o que aconteceu ou deixou de acontecer, e só procuro me informar a respeito da política e das catástrofes porque minha consciência pesa um pouco ante a idéia de ficar completamente alheio a tudo...do jeito que é bom. Mas das badalações midiáticas, principalmente essas do mundo do entretenimento, eu faço questão de passar ao longe. Porém, ontem, justamente ontem, tive um sonho esquisito; sonhei que eu concorria ao Globo de Ouro (no duro!) de melhor ator. Devo ter visto alguma chamada, em algum lugar, e isso ficou no meu subconsciente. A propósito, eu nem estava sabendo que essa premiação aconteceria na noite passada. Algo parecido ocorreu quando da morte do Papa - sonhei com que aconteceria na noite anterior ao acontecido.
Não faço a menor idéia de que filme era esse em que eu concorria, qual era meu papel, quais os outros concorrentes etc, etc... só sei que a trilha era "Nuit d'amor" (Barcarole), que também disputava o prêmio de canção - o filme devia ser bom. Ah, e como era maravilhosa a sensação de competir - foi como se eu estivesse em um pedestal; era um tal de repórteres pra lá, flashs pra cá, entrevistas...ô vaidade!
Acordei antes de descobrir se eu ganharia ou não o maldito globo de ouro; mas acho que não ganhei, pois lembro bem que eu não estava entre os mais cotados. Aliás, ainda não sei quem ganhou o quê nessa história (a de verdade); e agora, depois dessa, tenho que ir alí pesquisar.