Sunday, May 21, 2006

O Colecionador

Na contracapa de uma edição de O Colecionador (John Fowles) - Tradução de Fernando de Castro Ferro, São Paulo: Abril Cultural, 1980 - é dito que os tipos são caracterizados pela linguagem que usam. Sendo assim, a primeira parte do livro, narrada por Clegg (Calibã), é pautada pela gritante mediocridadede de seu caráter, enquanto que a segunda metade, o diário de Miranda, teria um estilo ágil, nervoso e cheio de vitalidade.

Eu não sei se a culpa é do tradutor mas, na minha honesta opinião, o que acontece é bem o contrário disso. Enquanto o livro é narrado por Clegg existe um encanto de mistério, e as coisas vão aos poucos se definindo no desenrolar da ação, com suspense e até humor.
Não nego que a personalidade de Miranda seja superior a de Clegg, mas devo dizer que a segunda metade, o diário, é muito chata. Fica um tal de G.P isso, G.P aquilo... Tive ganas de parar com a leitura. Na primeira parte do livro Miranda era inteligente e misteriosa; já na segunda, quando mergulhamos no seu íntimo diário, continuamos maravilhados com a sua singular inteligência, mas o que antes era mistério e graça, agora desaparece no meio de uma chatice, de uma histeria...A histeria eu perdoo, já que ela é a raptada da história. Mas para chatice não há perdão...no no!

Não sei qual era o escritor que dizia que as pessoas que não conhecemos bem são maravilhosas, ou algo assim. Seja lá quem foi que disse isso, eu tô com ele.

Thursday, May 18, 2006

Carta aberta para Concy Maduro

Querida Concy, confesso que de início cogitei a possibilidade de deixar tudo como está: você pensa que eu sou quem eu não sou, enquanto de cá eu calo e consinto em ser quem você pensa que eu sou, embora eu não seja.
Caso você seja quem eu penso que você é, e ainda que não seja, fico lisonjeado com sua ilustre visita. Volte sempre, e bem vinda seja.
Mas pense em mim como alguém que você não sabe quem é, pois que tenho o dever moral de informá-la que eu não sou quem você pensa que eu sou, muito embora eu tenha quase total certeza de saber quem você é.

Afinal, um de nós dois apareceu na TV ;)

Wednesday, May 17, 2006

Matei a charada!

Estava aqui pensando, muito sisudo e compenetrado, a respeito das falhas do teatro contemporâneo; vejá só que coisa... digo, pensava mais precisamente nesses textos escritos de uns trinta anos pra cá, e no porquê de sempre haver neles uma sobrecarga de cérebro em contraponto com uma lamentável escassez de emoção e drama. Falta do que dizer, i suppose...
O fato é que depois de dar muitas voltas e nós na cabeça cheguei à conclusão mais óbvia de todas: o que falta ao teatro moderno é tão somente a boa e velha simplicidade. O dramaturgo atual quer reinventar a roda, e tudo o que consegue fazer é criar um emaranhado de "elementos" modernosos, sempre tendo em vista o espetáculo; ou seja, tudo no sentido de literalmente montar a maldita peça. E assim nascem aquelas encenações cheias de parafernalhas, fios, cabos, figurinos de lata, isso plugando naquilo, etc. Você percebe que há uma vontade desesperada de dizer algo, e o mais inacreditável é que, em alguns casos, realmente há algo a ser dito; mas qual o quê? Fica tudo tão sufocado pelas (oh!) idéias mirabolantes, que pra você entender a tal da mensagem só mesmo procurando com muita paciência nas entrelinhas. E haja paciência, diga-se...

Por que não apredem com os antigos? Deos do céu, o teatro grego é completo. É simples, direto e (morram de inveja, mudernos) é belo. A sua cabeça não dói de tanto fazer força para entender o que aquelas pessoas tão distantes no tempo sentem e pensam durante o desenrolar da ação.
O problema do teatro moderno é que a parte complexa do texto vem na frente, para imprimir um ar inteligente, enquanto que a outra parte, que deveria ser simples, fica soterrada debaixo das grandiosas "idéias". O teatro antigo é superior porque reverte (para os olhos modernos) a ordem dessa situação.

Ah, até aqui escondi um fato: quando falo de teatro moderno estou me referindo à dramatugia brasileira, é claro. Bem feito pra mim, que insisto em chafurdar nas peças da térrinha.