Wednesday, March 08, 2006

...

O discurso é a coisa mais enjoativa que há. Assim como aqueles alimentos açucarados que atiçam a vontade pelos sentidos, pra só então trocarem por repulsa completa o prazer que se sente no início; o discurso tem sobre as pessoas o efeito que uma pedra de açúcar tem sobre as formigas: elas se esbaldam até morrerem - numa espécie de sarjeta - por cima do doce ainda exposto. É quando as tão virtuosas formigas se mostram desprezíveis seres ceifados por um vício momentâneo.
E como são doces as palavras de um discurso novo que nos agrada; e quanto mais agradável elas forem, maior será o enjôo sentido no futuro, quando da perda da novidade.
Nem mesmo a forma salva o discurso.

Sunday, March 05, 2006

Madame Bovary

Terminei de ler o livro sentindo uma grande pena de todos aqueles personagens, sem excessão. Um imenso dó de todos eles, por todas aquelas situações trágicas e embaraçosas, aquelas vidas achatadas pela mediocridade, pela repetição, pelo tédio ...Avancei para as últimas páginas com o coração vindo à boca e o aperto maior foi pelo pobre Carlos, que se despedaçou aos poucos até sucumbir diante da morte - morreu de tristeza, o coitado. Mas também foi angustiante toda a situação que precedeu o suicídio, e a Ema, pedecendo as dores do envenenamento, também acabou sendo dígna de profunda pena. Enfim, senti pena dela, do Carlos, da velha e sisuda mãe do Carlos, do Sr. Rouault, do cego maltrapilho, do Justino; até do farmacêutico eu tive pena, e olha que ele nem precisou de um final infeliz, muito pelo contrário.

Vi algumas muitas semelhanças entre esse romance e o Ana Karenina, do Tolstói. Porém, a diferença, a grande diferença é que neste último foi possível perceber um sol, ainda que tímido, brilhando na virada da última página. Já no livro do Flaubert...