Germaine Greer é a mundialmente famosa feminista e professora de literatura inglesa da Universidade de Warwick. Não sei se ainda é professora (o gugou não foi bem claro), mas era quando escreveu Shakespeare, livro sobre o qual irei comentar. Se ainda é professora, não sei, mas a possibilidade de ter deixado de ser feminista é bem improvável.
O Shakespeare de Germaine Greer é um apanhado de temáticas variadas e com um resultado bastante coeso para um livro que analisa as vastas obras de Shakespeare. E não se assustem os que torcem o nariz para o fator acidental- feminismo; não há nada no livro que comprometa o feminismo de Greer, nem uma análise de Shakespeare isenta de feminismo.
Mas eu não quero falar do livro todo, senão não saio desta cadeira.
Para mim, Shakespeare, assim como Camões e Dante, era a razão das pinicadas que eu sentia no crânio durante a adolescência- uma época em que, confesso, me agarrei na fé de que a literatura seria o caminho que me salvaria da mediocridade reinante. E a minha obsessão se voltava naturalmente para os grandes mestres; mesmo antes de feitas as devidas apresentações- e portanto sem que eu os conhecesse enfim; exceto, é claro, pelos nomes (ostentação é isso). E por aí se vê: o que não faz a neurótica combinação de hipocrisia e arrogância juvenil, não? Mas disso eu já me perdoei, e por dois motivos: havia uma sincera curiosidade do meu intelecto, que me fazia procurar por esses autores, e não há nada de errado ou trapaceiro nisso. O outro motivo foi o resultado das longas teorias sobre as obras desses grandes vultos. É que antes de ter o primeiro contato com a obra, eu costumava me indagar sobre o que haveria de tão grandioso, mágico, fabuloso e universal em algo escrito por um... gênio. E por essas e outras eu supunha coisas mirabolantes e que até hoje acho bem curioso de recordar.
Em uma dessas mirabolantes especulações, eu imaginava o que um gênio teria a dizer a respeito da Natureza (isso mesmo)- e é aqui que o livro de Germaine Greer entra na história.
Na verdade eu queria começar direto com uma peça, qualquer peça. Nada de livros que tentaassem me introduzir no universo do autor; mesmo porque a fidelidade às próprias concepções sempre foi minha marca regis. Mas acontece que minha professora entendeu errado o recado, e quando eu disse que queria conhecer Shakespeare, ela sorriu e no dia seguinte me apareceu com o livro da Germaine Greer-a feminista. Ok! ualá! Quem não tem cão, caça com gato; e lá fui eu ler o livro da Germaine. E no capítulo sobre Teologia estava lá, a natureza esmiuçada no Rei Lear.
Algo sobre a Natureza já havia sido esboçado em um capítulo sobre Sonho de uma noite de verão, mas eu ainda não estava satisfeito.
Sobre Rei Lear ela escreve tudo; comenta a senilidade do personagem e a dificuldade da maioria dos críticos em reconhecer esse fator em uma tragédia - herança aristotélica. A soberba de Lear e o desprezo que vai gradativamente se convertendo em humildade e fé ingênua; o Bobo como contraponto. Mas Greer não esqueceu da Natureza, e até hoje sou grato a ela por ter saciado a minha curiosidade já de cara.
O Rei Lear invoca os elementos da natureza e conclama que eles o obedeçam. Há também várias passagens em que os personagens (nham nham) personalizam a natureza. O próprio Lear chama Cordélia de:
"uma desgraçada de quem a Natureza sente vergonha /Quase, em reconhecer como sua".
Mas eram as invocações de Lear, no auge da loucura, que mais me impressionavam. Eu imaginava encenações onde a natureza pudesse compor um cenário poderoso e propício para a tragédia. Queria ver o Lear esmagado pela própria natureza e reduzido a nada em meio a uma indiferença majestosa; mais ou menos como em uma pintura de Turner- aliás, meu ídolo na época.
E nesse causo, acho que eu considerava Shakespeare moderno até demais, pois me mostrou que a tragédia não precisa de mitologia. Assim foi bem fácil considerar seu gênio logo de cara.
Porém, mais tarde, com a leitura das peças, a coisa foi mudando...
PS: Ainda considero Shakespeare um gênio.
O Shakespeare de Germaine Greer é um apanhado de temáticas variadas e com um resultado bastante coeso para um livro que analisa as vastas obras de Shakespeare. E não se assustem os que torcem o nariz para o fator acidental- feminismo; não há nada no livro que comprometa o feminismo de Greer, nem uma análise de Shakespeare isenta de feminismo.
Mas eu não quero falar do livro todo, senão não saio desta cadeira.
Para mim, Shakespeare, assim como Camões e Dante, era a razão das pinicadas que eu sentia no crânio durante a adolescência- uma época em que, confesso, me agarrei na fé de que a literatura seria o caminho que me salvaria da mediocridade reinante. E a minha obsessão se voltava naturalmente para os grandes mestres; mesmo antes de feitas as devidas apresentações- e portanto sem que eu os conhecesse enfim; exceto, é claro, pelos nomes (ostentação é isso). E por aí se vê: o que não faz a neurótica combinação de hipocrisia e arrogância juvenil, não? Mas disso eu já me perdoei, e por dois motivos: havia uma sincera curiosidade do meu intelecto, que me fazia procurar por esses autores, e não há nada de errado ou trapaceiro nisso. O outro motivo foi o resultado das longas teorias sobre as obras desses grandes vultos. É que antes de ter o primeiro contato com a obra, eu costumava me indagar sobre o que haveria de tão grandioso, mágico, fabuloso e universal em algo escrito por um... gênio. E por essas e outras eu supunha coisas mirabolantes e que até hoje acho bem curioso de recordar.
Em uma dessas mirabolantes especulações, eu imaginava o que um gênio teria a dizer a respeito da Natureza (isso mesmo)- e é aqui que o livro de Germaine Greer entra na história.
Na verdade eu queria começar direto com uma peça, qualquer peça. Nada de livros que tentaassem me introduzir no universo do autor; mesmo porque a fidelidade às próprias concepções sempre foi minha marca regis. Mas acontece que minha professora entendeu errado o recado, e quando eu disse que queria conhecer Shakespeare, ela sorriu e no dia seguinte me apareceu com o livro da Germaine Greer-a feminista. Ok! ualá! Quem não tem cão, caça com gato; e lá fui eu ler o livro da Germaine. E no capítulo sobre Teologia estava lá, a natureza esmiuçada no Rei Lear.
Algo sobre a Natureza já havia sido esboçado em um capítulo sobre Sonho de uma noite de verão, mas eu ainda não estava satisfeito.
Sobre Rei Lear ela escreve tudo; comenta a senilidade do personagem e a dificuldade da maioria dos críticos em reconhecer esse fator em uma tragédia - herança aristotélica. A soberba de Lear e o desprezo que vai gradativamente se convertendo em humildade e fé ingênua; o Bobo como contraponto. Mas Greer não esqueceu da Natureza, e até hoje sou grato a ela por ter saciado a minha curiosidade já de cara.
O Rei Lear invoca os elementos da natureza e conclama que eles o obedeçam. Há também várias passagens em que os personagens (nham nham) personalizam a natureza. O próprio Lear chama Cordélia de:
"uma desgraçada de quem a Natureza sente vergonha /Quase, em reconhecer como sua".
Mas eram as invocações de Lear, no auge da loucura, que mais me impressionavam. Eu imaginava encenações onde a natureza pudesse compor um cenário poderoso e propício para a tragédia. Queria ver o Lear esmagado pela própria natureza e reduzido a nada em meio a uma indiferença majestosa; mais ou menos como em uma pintura de Turner- aliás, meu ídolo na época.
E nesse causo, acho que eu considerava Shakespeare moderno até demais, pois me mostrou que a tragédia não precisa de mitologia. Assim foi bem fácil considerar seu gênio logo de cara.
Porém, mais tarde, com a leitura das peças, a coisa foi mudando...
PS: Ainda considero Shakespeare um gênio.
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