Tuesday, April 26, 2005

Nápoles

Sobre a foto abaixo.

Pois bem, tentei deixá-la sem explicações, mas algo me impeliu a fazer o contrário. É que...como direi? Encontrei uma deixa para falar sobre fotografia. Isso não é demais?

Na verdade não há nada demais, apenas devo dizer que a fotografia é uma arte sem importância (quê? como?) a menos, é claro, que tenha algum valor sentimental para quem a vê.
Esta foto encontrei no gugou depois de buscar por "Recife 1985" na parte de imagens. O fato é que, levando em conta a ressalva (aquela que...), e observando a biografia deste que vos tecla; se separarmos o período de 1985 a 1987, teremos em mãos, justinho-e-definido, o tempo que corresponde a primeira infãncia, que passei em Recife. E todos deveriam ser sentimentais neste período (e/ou sentimentais por conseguinte), ou ter sentimentalismo exacerbado e incurável pela primeira infância, pois nela tudo é mágico e grandioso. E se a vida fosse boa, seria toda ela assim, sempre, como na primeira infância.
Não posso deixar de imaginar que eu bem que poderia estar atravessando esta avenida, no momento em que bateram esta foto. Na verdade posso me ver pequenino, segurando na mão de minha mãe e olhando com ódio melodramático para os ônibus, que todas as manhãs, sem falta, roubavam ela de mim e a levavam para o trabalho. Sem falta? Não me esqueço de quando os ônibus da Nápoles entraram em greve e minha mãe ficou em casa. Foi uma alegria pra mim...
Outro ponto: a tonalidade. Esse tom, que parece envolver tudo em uma bruma meio difusa, só contribui para a ligação afetiva. É definitivamente uma imagem capturada do meu passado, e reforçada pela idéia de que a avenida fica em Recife. E as grandes avenidas sempre estavam próximas ao mar. Já havia uma ligação na minha mente de seis anos, e ela associava avenidas movimentadas à praia. Hoje, quando passo por uma avenida movimentada, debaixo de um céu limpo...se vejo um pedaço de palmeira, mesmo estando em São Paulo, já sinto cheiro de sargaço. Mas isso eu sei que é psicológico.
O que eu quero dizer é que não consigo ver graça em fotografias que não tenham valor sentimental. São geralmente frias e sem beleza, por mais bem trabalhadas que estejam. E só me sufocam na tentativa desesperada de transmitir algo.

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