Saturday, June 11, 2005

This Happy Madness

A canção Estrada Branca, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, foi uma espécie de hino da minha adolescência - época em que fui extremamente romântico e gostava de curtir uma dor de amor das boas. Hoje, já chegando nos 25, não tenho mais tempo nem cabeça pra isso.
Mas eu quero falar da música e de como as duas versões, que vou postar abaixo, são distintas uma da outra. A canção original fala de uma dor profunda e de solidão; rimando caminho com sozinho, noite alta com falta, e finalizando com um retumbante: "...vou caminhando com vontade de morrer." A versão em inglês (americana), por outro lado, está longe de tentar traduzir o sentido da Estrada Branca de que fala a música, seguindo um caminho completamente oposto ao da canção original; e está mais para uma rasgada declaração de amor que para um lamento.

Embora as duas versões tenham a participação de Tom e Vinícius, a versão em inglês de certa forma atende a um outro tipo de público, não muito chegado as lamúrias da mpb. Então, a minha teoria é a de que os americanos gostam de imprimir uma esperança nas coisas. É o velho hábito de pensar alto e encarar o lado positivo de tudo, custe o que custar. No caso dessa música o resultado foi bom, mas em outras ocasiões fico com a pulga atrás da orelha. Ex: ontém estava eu na rede (a de navegar, não a de deitar), entrando em blogs aleatoriamente, como gosto de fazer, quando me deparo com um blog do Texas, cujo texto mais recente era sobre a morte de um amigo do blogueiro em questão. O motivo da morte foi a queda do avião que o rapaz pilotava - ao que tudo indica voar era a maior paixão da vida dele. Pois bem, o cara escreve um texto falando da paixão do amigo, da forma como ele abraçava os sonhos e os objetivos, da importância de vivermos cada momento como se fosse o último; com conselhos de vida, mensagens positivas e todas aquelas coisas que a gente vê nos filmes; mas deixou de fora um ponto crucial: a dor. Minha nossa, se um dos meus amigos morre eu ficaria tão arrasado que não teria condições nem de escrever no blog, que o dirá se fosse para falar da paixão, que nesse caso vitimou o amigo; e se o fizesse seria pra tentar exorcizar a minha tristeza...ou, no lugar dele, culpar a paixão por pilotar, xingar o avião, sei lá. E estaria inconsolável demais para pensar em conselhos e sonhos de vida. E não adianta falar que a dor do cara já tinha sido estancada porque o post foi escrito um dia após o desastre.

Mas voltando ao tema inicial: A começar pela letra, a versão americana já destoa completamente de Estrada Branca: This Happy Madness (Essa Feliz Loucura). É engraçado ouvir duas músicas com a mesma melodia mas com letras praticamente antagônicas (o piano da versão Happy Madness é de arrepiar). Sei que é meio ridículo ficar fazendo análise poética de canção, então comparem vocês mesmos e vejam a diferença entre as duas letras.

ESTRADA BRANCA
(Tom Jobim/ Vinícius de Moraes)

Estrada branca, lua branca, noite alta, tua falta
Caminhando, caminhando, caminhando ao lado meu
Uma saudade, uma vontade tao doída, de uma vida, vida que morreu
Estrada passarada, noite clara, meu caminho é
tão sozinho, tao sozinho a percorrer
Que mesmo andando para a frente, olhando a lua tristemente
Quanto mais ando, mais estou perto de você
Se em vez de noite fosse dia, se o sol brilhasse e a poesia
Se em vez de triste fosse alegre de partir
Se em vez de eu ver só minha sombra nessa estrada
Eu visse ao longo dessa estrada, uma outra sombra a me seguir
Mas a verdade é que a cidade ficou longe, ficou longe
Na cidade, se deixou meu bem-querer
E eu vou sozinho sem carinho, vou caminhando meu caminho
Vou caminhando com vontade de morrer.

THIS HAPPY MADNESS
(versão de Estrada Branca)
Tom Jobim/ Vinícius de Moraes/ Gene Lees


What should I call this happy madness that I feel inside of me?
Somekind of wild October gladness that I never thought I'd see
Whatever happened to my sadness, all my endless lonely sighs
Where are my sorrows now?
What happened to the frown and is that self contented clown
Standing there grining in the mirror really me?
I'd like to run through Central Park
Carve your initials in the bark of every tree I pass for everyone to see
I feel that I've gone back to childhood and I'm skipping through the wild wood,
So excited that I don't know what to do
What do I care if I'm a juvenile?
I smile my secret smile because I know the change in me is you
What should I call this happy madness all this unexpected joy
That turned the world into a baby's bouncing toy?
The gods are laughing far above
One of them gave a little shove and I fell gaily, gladly madly into love

2 comments:

Odorico Leal said...

A música brasileira não tem outra saída a não ser se lamentar. Quando fica feliz, começa logo a tirar a roupa feito crioula-doida.

Franz said...

Ah sim, é que que eu digo: alegria de brasileiro é distúrbio hormonal...doença.

Mas ainda assim temos os contagiantes sambas de Billy Blanco; aquele do "Estatuto de boite":

"...O estatuto não prevê mas eu lhe digo
Traga a sua mulher de casa e deixe em paz a do amigo."